PSDB e DEM aproveitam as falhas no fornecimento de energia para criticar a gestão Dilma. Planalto vê ação orquestrada para atrapalhar a reeleição da presidente em 2014
Paulo de Tarso Lyra e Denise Rothenburg
O Planalto acusa a oposição de potencializar os problemas no fornecimento de energia no país para desconstruir a imagem de gestora da presidente Dilma Rousseff. Apesar dos reservatórios vazios, dos constantes apagões em diversas cidades e até no aeroporto Galeão (RJ), os governistas acham que tucanos e demistas atacam a área na qual Dilma é especialista em uma tentativa de desestabilizar a reeleição da presidente. “Eles não querem ganhar novos eleitores. Eles estão, sim, tentando recuperar os que estão perdendo”, declarou o deputado federal e secretário de Comunicação do PT, André Vargas (PR).
A batalha foi iniciada em setembro do ano passado, quando a presidente Dilma aproveitou o pronunciamento em comemoração à Independência do Brasil para anunciar que encaminharia uma proposta ao Congresso com o intuito de reduzir a conta de energia em 20% a partir deste ano. Mas na medida provisória encaminhada ao Legislativo, ela também incluiu novas regras para a manutenção ou a suspensão das concessões de energia elétrica. “Quem provocou esse debate acirrado foi o governo, ao ser intransigente nas negociações em torno da Medida Provisória 579”, rebateu o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal.
O PT e o Planalto veem uma sequência política lógica no debate atual em torno da possibilidade de racionamento de energia. Os ataques da oposição começaram desde que o julgamento do mensalão foi marcado para o período eleitoral no ano passado, intensificaram-se com a condenação dos petistas e prosseguiram com os depoimentos de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República, no qual o operador do esquema tentou envolver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escândalo. Agora, o alvo dos opositores seria a capacidade administrativa de Dilma. “Eles estão calculando as perdas com a redução na conta de energia que será feito pela presidente. E não é uma perda apenas de receita”, disse ao Correio um ministro próximo de Dilma. “Eles precisam construir um discurso palatável. Caso contrário, não têm condições sequer de viabilizar uma candidatura alternativa”, provoca André Vargas.
O governo também acha que a pressão de setores do empresariado e da oposição em torno do fantasma de racionamento também têm relação com perdas de receitas impostas às concessionárias com as recentes negociações da MP 579. Levantamento feito pela Economática (ferramenta de análise de ações e fundos de investimento) mostra que, em pouco mais de quatro meses, as empresas do setor perderam R$ 37,23 bilhões em valor de mercado (leia mais na página 13). “Tem gente especulando e ganhando muito dinheiro com uma crise que não existe. Em qualquer outro país, isso seria suficiente para a abertura de um processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)”, disse o ministro próximo da presidente.
O secretário petista André Vargas admite que existem alguns problemas pontuais de transmissão, mas afirma que é um exagero falar em desabastecimento de energia. “Não estamos nem perto do apagão que prejudicou o Brasil em 2000 e 2001. Estão querendo usar termos iguais para momentos completamente diferentes”, afirmou o petista.
Chuvas
José Aníbal, entretanto, acredita que a oposição está sendo injustiçada. “Nós estamos falando até pouco. Estamos apenas alertando o governo que é preciso investir em prevenção”, disse o secretário de Energia paulista. Ele admite que falar em desabastecimento agora, quando as chuvas acabaram de começar, pode ser algo prematuro. Além disso, o governo acabou agindo bem ao despachar boa parte das térmicas para suprir eventuais faltas de energia. “Mas também não podemos garantir que as chuvas que cairão até fevereiro ou março serão suficientes para garantir a geração de energia no segundo semestre, quando o período chuvoso acabar”, completou o tucano.
No Planalto, além da questão energética, outros assuntos de caráter federativo preocupam e abrem ensejo para embates acalorados com a oposição: royalties do petróleo, Fundo de Participação dos Estados (FPE) e derrubada dos vetos presidenciais. “São assuntos sempre complexos. E, em um ano pré-eleitoral, todos os problemas acabam potencializados”, disse um articulador governista.
Fonte: Correio Braziliense
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