Márcia De Chiara
Arroz, feijão e farinha, o prato típico do brasileiro pobre que vive no Nordeste, além do to-mate, foram os vilões do custo da cesta básica em janeiro. No mês passado, os preços da cesta básica, que engloba 13 alimentos, subiu em todas as 18 capitais pesquisadas pelo De-parlamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A cesta é calculada a partir do mesmo grupo de produtos, mas em cada capital é atribuído um peso diferente para cada item, de acordo com o hábito de consumo local.
A maior alta foi registrada na cesta básica de Salvador, de 17,85%, seguida por mais duas capitais do Nordeste, Aracaju (13,59%) e Natal (12,48%), além de Brasília (11,30%). A posição de destaque das capitais nordestinas, com variação mensal na casa de dois dígitos, foi provocada pela alta da farinha de mandioca, alimento básico da região, cuja produção foi afetada pela seca.
O preço da farinha de mandioca subiu 66,67% em Salvador; 36,50%, em Natal e 35,38% em João Pessoa em janeiro. "A seca afetou a produção de mandioca e houve aumento na demanda regional", afirma Fernando Adura Martins, economista do Dieese.
O feijão também foi outro vilão da cesta básica e subiu em 16 das 18 capitais pesquisadas. João Figueiredo Ruas, técnico de Planejamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), diz que problemas climáticos afetaram a produção da primeira safra que está sendo colhida, os estoques do governo são baixíssimos, cerca de 2 mil toneladas e o abastecimento está "da mão para a boca".
"Normalmente em janeiro os preços do feijão caem por causa da entrada da safra, mas, neste ano, esse movimento não está ocorrendo porque o produto é escasso", diz Ruas. Segundo ele, os preços do feijão devem continuar pressionados por algum tempo porque muitos produtores substituíram o feijão pelo milho no plantio da safrinha em janeiro.
No caso do arroz, o preço do cereal subiu em 12 de 18 capitais pesquisadas. Em Aracaju, por exemplo, aumentou 14,17% em janeiro, seguida por Florianópolis (13,68%).
Elcio Bento, analista sênior da consultoria Safras & Mercado, explica que essa pressão de preços ainda reflete a explosão da cotação dos grãos no mercado internacional no segundo semestre do ano passado. No rastro da soja e do milho, o preço do arroz que também é cotado na Bolsa de Chicago, acompanhou a alta das duas outras commodities e foi influenciado pela redução de produção nos países do Mercosul e pela alta do câmbio, já que parte do grão é importada de países vizinhos.
Além disso, como hoje a colhei¬ta de arroz está no início e os estoques de passagem no País estão muito baixos e somam 1,6 milhões de toneladas, a tendência é de que os preços se mantenham num patamar alto, mesmo com a entrada da safra, prevê Bento.
Tomate. Já o caso do tomate é diferente. O preço do produto subiu em todas as capitais pesquisadas e as altas foram expressivas.
Em Aracaju, por exemplo, o preço mais que dobrou (104%). Martins, do Dieese, destaca que o produto foi afetado pelos excesso de chuvas, que normalmente afeta a colheita de itens innatura em janeiro, Mas, ao contrário do arroz, do feijão e da mandioca, como o tomate tem um ciclo menor de produção, a oferta deve se regularizar em breve.
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, acredita que o pico de preços dos alimentos in natura foi em janeiro. Para o arroz e o feijão, cujos preços ainda estão sendo afetados pela quebra da última safra, ele prevê um cenário de cotações pressiona¬das até o final de março, quando maior volume de produto entra no mercado e o preço cai.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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