O feitiço do isolamento que Eduardo Campos lançou sobre o PT em 2012, na eleição municipal, se volta agora contra ele
Grande parte da conversa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com sua sucessora, Dilma Rousseff na semana passada girou em torno de alguém que Lula tinha como seu “filho político”, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Aos poucos, as mágoas por Eduardo ter se aproximado de Roberto Freire, do Movimento Democrático (MD), e de Jarbas Vasconcelos deixam de ser se guardados pelas colunas do Palácio da Alvorada e ganham as rodas da política.
Com Dilma no papel de candidata — e com ela o PMDB na vaga de candidato a vice —, os petistas põem em prática o plano traçado de isolar o governador pernambucano. Depois das ações conhecidas de estancar o fluxo de aliados ao projeto de candidatura própria do governador, o PT parte para a segunda etapa dessa desconstrução: tentar isolar Eduardo em Pernambuco, onde ele tem mais de 80% de aprovação.
Sob as bênçãos de Lula e de Dilma, há uma tentativa de juntar os senadores Armando Monteiro Neto, do PTB; o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho; o senador Humberto Costa, do PT; os deputados João Paulo Lima, petista, ex-prefeito de Recife; e Dudu da Fonte, do PP. Desse bloco sairia o candidato a governador, o vice e ainda o nome ao Senado.
O objetivo é formar um novo eixo de poder em Pernambuco, de forma a empurrar Eduardo Campos para o outro lado, onde, aliás, parte dos petistas acredita que o governador já está por conta da aproximação com Freire e Jarbas. Na esfera estadual, há quem reclame de uma “baianização” ou “venezuelização” da política pernambucana, comparando Eduardo a caciques políticos que não toleram as coisas feitas de forma diferente daquilo que desejam. “Ele quer tudo, assim não dá”, é o que mais se ouve nos bastidores de pernambucanos que se colocam como aliados do governador. Assim, o feitiço do isolamento que Eduardo lançou sobre o PT em 2012, na eleição municipal, se volta agora contra ele. Essa queda de braço está apenas começando. Tudo isso mudaria, é claro, se o plano B de Lula candidato fosse acionado. Por enquanto, esse último recurso é apenas um sonho distante para muitos petistas que o enxergam como a única maneira de levar Eduardo Campos a desistir da carreira solo.
Enquanto isso, no PSB...
Quanto mais o PT tenta isolar o governador e jogá-lo às cordas, mais ele se movimenta. Recentemente, encontrou em grupos separados, 350 deputados estaduais reunidos em Pernambuco para a reunião da União Nacional dos Legislativos Estaduais (Unale). Também acaba de filiar o vice-governador, João Lyra Neto, ao PSB, numa festa onde houve inclusive “santinho” estampando Eduardo como opção para 2014.
Os cálculos do PSB são matemáticos. Baseados no grau de conhecimento que a população tem do governador Eduardo Campos, 20%, e o obtido na pesquisa de intenção de voto, 6%, os partidários dele projetam algo em torno de 30% dos votos, caso esse conhecimento chegue a 100%. O senador Aécio Neves, do PSDB, é conhecido por 55% do eleitorado e tem 12%, ou seja, a projeção de 100% ficaria em torno de 23%, 24% dos votos. Daí, as esperanças dos aliados de Eduardo Campos.
Por falar em Aécio...
Ocorre que política não é uma ciência matemática tão exata que possa ser resolvida por uma regra de três. Se fosse assim, feiticeiros e seus respectivos feitiços estariam dispensados. Da parte do PSDB, por exemplo, há uma cobrança de um pedido de desculpas da presidente Dilma Rousseff, em cadeia nacional, pela balbúrdia ocorrida com o Bolsa Família há alguns dias.
O partido também apresentou uma série de pedidos de convocação de representantes do governo, inclusive, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, para que explique a confusão e o porquê da antecipação dos recursos aos beneficiários. Era assim que o PT agia no passado. Esse é mais um feitiço que se vira contra o feiticeiro.
Fonte: Correio Braziliense
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