A entrada em cena, ainda em 2013, do ex-presidente Lula sinaliza que a campanha da presidente Dilma Rousseff entrou em estado de emergência. Não que configure surpresa, afinal ele próprio já antecipara a sua disposição de ser o cabo eleitoral da afilhada política, mas o momento ruim do governo e a preocupação explícita do líder petista são um recibo do risco que enxerga para o projeto de reeleição.
Não há coincidência entre a chegada às pressas de Lula a Brasília, o rombo recorde nas contas públicas e a desconfiança do empresariado com o governo, que alcançou seu auge. O mau momento também agrava a insatisfação interna do PT com Dilma, extensiva ao PMDB, aliado nacional, mas adversário indigesto nas disputas regionais.
Já se sabe, a essa altura, que o projeto de autonomia formal do Banco Central, desarquivado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tinha, senão a iniciativa, a aprovação de Lula. Um gesto radical, análogo à Carta ao Povo Brasileiro, uma desesperada tentativa de resgatar a confiança do mercado, abortada por Dilma.
O recuo por determinação de Dilma só serviu para consolidar nos investidores a certeza de que num eventual segundo mandato, ela agravará o cunho intervencionista de seu governo, percebido sempre que a participação privada se faz incontornável, seja pela reduzida margem de lucro, seja pelo tratamento de mal necessário que dispensa aos interlocutores - ou ambas.
Já antes, na fala em rede nacional de rádio e televisão providenciada para capitalizar eleitoralmente o leilão de Libra, a ênfase dada para negá-lo como um processo de privatização foi uma reafirmação da linha estatizante em que acredita como norte gestor. Para o mercado, Dilma não mudará jamais, o que explica a nostalgia do antecessor.
A aceleração da piora econômica encontra a presidente com o índice de aprovação estacionado há dois meses em 38%, frustrando a aposta de seus conselheiros que ao comemorarem a leve melhora depois dos protestos de junho previram a reconquista do patamar anterior às manifestações. Considerada a overdose de exposição ministrada à candidata, o diagnóstico deixa de ser o de uma queda passageira para se consolidar como um a perda de capital político.
A boa notícia para Dilma é que a oposição também parece mergulhada em seus próprios problemas, longe de capitalizar o momento adverso da concorrente. O distinto público continua sem saber se o candidato do PSDB será Aécio Neves ou José Serra e também se o do PSB será Eduardo Campos ou Marina. A má notícia para a presidente é que agora essa mesma dúvida volta a visitar a aliança PT/PMDB. Será Dilma ou Lula?
Fonte: O Estado de S. Paulo
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