- O Tempo (MG)
No início do ano passado, quando o favoritismo da presidente Dilma Rousseff (PT) nas eleições de 2014 era incontestável, comentei vários problemas potenciais que poderiam ameaçar esse posicionamento. Entre eles, a perda da qualidade do diálogo social, os desacertos na coordenação política do governo, a pouca vocação da presidente para o diálogo.
Em fevereiro de 2013, escrevi o seguinte neste jornal: “Por incrível que pareça, o imenso favoritismo de Dilma Rousseff para a campanha presidencial de 2014 se encontra em xeque”. De lá para cá, muitas das questões abordadas por mim como potencialmente problemáticas se intensificaram e se tornaram problemas reais. Outras, como a possibilidade de apagão de energia, se colocaram no cenário.
Mauro Paulino, sociólogo e diretor do Datafolha, em entrevista às “Páginas Amarelas” da revista “Veja” (edição 2.369/abril 2014), afirma que a eleição de outubro será a mais imprevisível dos últimos tempos. Ele lista a alta rejeição à classe política, o desejo de mudança dos brasileiros e a realização da Copa do Mundo como fatores que favorecem a imprevisibilidade. Diz ainda que o maior adversário de Dilma é a economia.
Pois bem, a imprevisibilidade em eleições é fator certo. Aliás, de acordo com um ditado árabe, aquele que prevê o futuro mente mesmo quando acerta. Portanto, o quadro está em aberto. Tudo pode acontecer; até mesmo as tendências de favoritismo de Dilma se confirmarem. Porém, Paulino levanta variáveis importantes que, sem dúvida, aumentam o teor de imprevisibilidade da carreira eleitoral deste ano.
Vale destacar que os aspectos apontados por ele são relevantes, mas não abarcam toda a complexidade que se apresenta para outubro. Além deles, do fato inconteste de que a economia é um grande desafio e dos fatores já mencionados por mim, como a falta de coordenação política no governo e a perda de qualidade no diálogo social, que afetam sobremaneira o desempenho da candidata governista, existem outros aspectos que agregam incerteza.
Um aspecto é o papel crescente da internet e das redes sociais nas eleições. Nas eleições presidenciais de 2010, a internet deu as caras, mas não favoreceu ninguém. Pedro Dória, em artigo no “Estadão” (31.10.2010), afirmou que nenhum dos candidatos levou vantagem no uso das redes sociais naquela época. Neste ano, porém, acredito que a internet poderá fazer a diferença.
O uso da internet e das redes sociais será, gradativamente, mais determinante nas campanhas eleitorais a partir de alguns vetores. O primeiro deles é a expansão dos smartphones. O crescimento do uso de aparelhos com recursos que incluem o acesso à internet é espantoso no Brasil. Ainda que estejamos abaixo da média mundial, que é de 48% dos telefones celulares em uso, já ultrapassamos 20% do universo de celulares no país.
O segundo fator que justifica tal certeza é que nos protestos de junho de 2013 tivemos uso intensivo do Facebook e do Twitter na mobilização dos manifestantes, fato comprovado em pesquisas realizadas no Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo. Ficou claro que movimentos políticos já sabem usar as redes sociais a seu favor.
Assim, considerando tanto a questão do financiamento de campanhas quanto a maior importância das redes sociais, além dos temas apontados por Mauro Paulino, vemos que as próximas eleições caminham para um cenário de grande indefinição.
Murillo de Aragão é cientista político
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