Sob a pressão das denúncias envolvendo a Petrobras e da queda nas pesquisas, Dilma vê diluir no Congresso o suporte dos aliados
Denise Rothenburg - Correio Braziliense
A oposição chega do feriado prolongado amanhã disposta a aumentar a pressão pela instalação da CPI da Petrobras. E o cenário para buscar a investigação está como o de um dia de sol para uma piscina: queda na avaliação da presidente Dilma Rousseff, população clamando por alguma mudança — o que, por si só, traz embutida uma tendência de eleição em dois turnos — e, acima de tudo isso, as suspeitas cada vez mais volumosas de negócios escusos do governo na área do petróleo. Diante desse quadro desfavorável, a própria base aliada vai se afastando. Em conversas reservadas no feriadão, seus integrantes fizeram chegar ao Planalto que a CPI virá. Só não se sabe se ampliada ou focada apenas na Petrobras. Essa decisão estará a cargo da ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber.
Os governistas concluíram por esses dias que a carga sobre a estatal não vai parar nem o discurso de que a oposição pretende destruir a empresa surtiu efeito para conter a crise. Tampouco a audiência da presidente da empresa, Graça Foster, estancou a pressão pela investigação. Graça, ao dizer que a compra da Refinaria de Pasadena foi “um mau negócio”, fez um contraponto às afirmações do ex-diretor Nestor Cerveró, o defensor da operação. Ou seja, as dúvidas continuam. Para completar o desfile de ambos em comissões do Congresso, as notícias sobre mais um deputado enroscado na rede da Operação Lava-Jato — Luiz Argollo (PP), que teria recebido o doleiro Alberto Yousseff em sua casa em Brasília — deixam os congressistas em um cenário cada vez mais estreito para evitar a CPI em ano eleitoral, quando todos estarão em teste nas urnas.
Até aqui, a estratégia do governo foi no sentido de ganhar tempo, de forma a matar a CPI atropelada pelo calendário do futebol e das eleições. Até aqui, deu certo. O problema é que o assunto continua vivo, o pedido de CPI caminhou no plenário do Congresso e ainda faltam quase dois meses para a Copa da Fifa e a largada das convenções oficiais. Ou seja, há espaço para investigar e passar ao eleitor a ideia de que os congressistas, de um modo geral, estão preocupados em estancar a corrupção. Ainda que atinja um ou outro político, em geral, a maioria se considera preservada.
A avaliação dos partidos é a de que uma CPI, a esta altura do campeonato, poderia atingir o PT, o PP do falecido José Janene, a parcela do PMDB do Senado que tem indicações no setor petróleo (leia-se, o grupo do presidente da Casa, Renan Calheiros) e o governo de um modo geral. Ou seja, não atinge nem o PMDB da Câmara nem os demais partidos, hoje meio descompromissados com o Palácio do Planalto. Em conversas reservadas, os políticos têm dito que o que segura a base da presidente Dilma é a perspectiva da reeleição. No momento em que um segundo mandato para ela deixa de ser uma certeza, a maioria dos parlamentares, que não se sente partícipe do governo, vai cuidar da própria eleição, sem a menor preocupação com o que possa acontecer com Dilma ou com um ou outro parlamentar nesse processo de CPI.
Ao trabalho
Aqueles que já chegaram do feriado prolongado comentam que a ordem agora é tirar o país — e o Congresso — da sensação de marasmo. “Essa sensação é geral, dentro e fora do Parlamento. E não tem mais essa de não querer ouvir nada contra a ‘mulher do Lula’. Em 2010, quem chegasse falando mal de Dilma era rechaçado. Hoje, as pessoas param para ouvir” conta o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), dando um sinal de que a campanha da presidente não será fácil.
Os parlamentares não querem compartilhar problemas de Dilma. Por isso, paralelamente à CPI, as lideranças pretendem pôr em votação projetos polêmicos, como os do aumento de salário dos agentes comunitários de saúde e do que define 30 horas de trabalho ao pessoal de enfermagem, propostas que o governo não deseja ver aprovadas agora. Esta semana, entretanto, o Palácio deve conseguir evitar a inclusão desses temas em plenário, até porque a Casa terá que decidir como será a eleição do novo vice-presidente, que assumirá o lugar de André Vargas (PT-PR), que renunciou ao cargo, mas não ao mandato, por causa das relações delicadas que mantinha com o doleiro Alberto Yousseff.
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