Alessandra Saraiva, Guilherme Serodio e Cristiane Agostine – Valor Econômico
RIO e SÃO PAULO - Em busca de apoio e declaração de voto no meio cultural, as candidatas à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) marcaram para o mesmo dia eventos com artistas e intelectuais.
Na noite de ontem, Dilma reuniu-se com dezenas de artistas e intelectuais no Rio de Janeiro, no Teatro Casa Grande, no bairro do Leblon. Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente dividiu o palco com Leonardo Boff, Alcione, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Elza Soares, Nelson Pereira dos Santos, entre outros. No evento, com ingressos vendidos pelo PT, estavam também João Pedro Stédile, Ivana Bentes, Samuel Pinheiro Guimarães e Maria da Conceição Tavares. Na eleição de 2010 houve evento similar.
Lula criticou o discurso de Marina e disse que não é possível falar em nova política sem dizer como, onde e com quem governar.
O ex-presidente defendeu um plebiscito para fazer a reforma política mas falou que "até lá, se formos eleitos, vamos governar com quem for eleito, com PT, PMDB". Lula se disse contrário à doações de campanhas por empresas e afirmou que o financiamento privado deveria ser crime inafiançável.
Antes do encontro, artistas e intelectuais divulgaram pela internet um manifesto pró-Dilma. Com o título "Primavera dos Direitos de Todos; Ganhar para Avançar", o manifesto é assinado por 68 nomes que vão desde o cantor Chico Buarque até intelectuais como os escritores Paulo Lins, Fernando Morais e Luis Fernando Verissimo.
O documento foi redigido com o apoio de diferentes grupos ligados à cultura e por intelectuais próximos ao PT como o sociólogo Emir Sader e o ex-ministro da Cultura do governo Lula Juca Ferreira. No manifesto, os intelectuais detalham que a corrida presidencial irá definir se o caminho que o país se encontra desde 2003, no começo da gestão do PT na Presidência, é positivo ou não. Na análise dos que assinaram o manifesto, "nunca o Brasil havia vivido um processo tão profundo e prolongado de mudança e de justiça social". No texto, a classe artística e intelectual admite que o país precisa de mudanças e cita as manifestações de rua. No entanto, a avaliação é que o país precisa "mudar avançando e não recuando".
A ensaísta e pesquisadora na área de comunicação e cultura Ivana Bentes, uma das signatárias do manifesto, afirma que o documento tem o objetivo de pressionar a candidatura do PT para se reaproximar do setor cultural. Para Ivana, Dilma é a candidata com mais possibilidade de dialogar e ser influenciada por pressão política pelo setor. "O projeto do PT não se esgotou, está aberto ainda e é capaz de ter vitórias públicas mais radicais", diz, citando o que classifica como conquistas recentes do setor, tais quais a aprovação da Lei Cultura Viva, do Marco Civil da Internet e a regulamentação das ONGs.
"São políticas públicas na área da cultura que efetivamente apontam para o rumo que o Minc [ministério da Cultura] estava tomando na gestão [Gilberto] Gil e Juca [Ferreira]", justifica.
Horas antes do evento de Dilma no Rio, Marina reuniu-se em São Paulo, na tarde de ontem, com representantes da classe artística e intelectual, em um evento com nomes menos conhecidos no plano nacional. No encontro na Casa das Caldeiras, estavam o cineasta Fernando Meirelles e o cantor Dinho Ouro Preto, além de representantes de 20 áreas da cultura, como literatura, artesanato, artes plásticas, música e cinema. O evento foi organizado por Gisela Moreau, uma das responsáveis pela parte cultural do programa de Marina.
Amanhã, a candidata do PSB também deve fazer um evento no Rio com artistas, que deverá ter mais nomes de peso no cenário cultural nacional. Ontem, Marina se encontrou com o cantor Gilberto Gil, que apoia a candidata. Em um telão, a campanha exibiu depoimentos de artistas como o ator Marcos Palmeira, o cineasta Silvio Tendler, o músico Arrigo Barnabé e os cantores Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto.
Pedro Ivo, um dos principais articuladores da campanha de Marina, minimizou o fato de a plateia, com cerca de 250 pessoas, não ter muitos artistas conhecidos nacionalmente. "O evento é para a discussão do programa de governo. Aqui estão pessoas que ajudaram a construir as propostas", disse.
Marina lembrou sua atuação no teatro e arrancou risos ao dizer que representou um cacto em "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Mello Neto, e a personagem Chita, em outra peça. Marina falou também que fez curso de corte e costura e de seu gosto pelo artesanato.
Em crítica a Dilma, Marina disse que tem muita gente fazendo arte na política, "mas naquele outro sentido". "A arte de acabar com a Petrobras", afirmou.
Marina disse ser vítima das mesmas acusações feitas contra Lula em campanhas passadas. "Ele [Lula] já tinha vivido uma experiência parecida com a que estou vivendo agora em que um caçador de marajás disse que Lula era um exterminador do futuro. E quem tivesse dois quartos na casa, o Lula ia botar uma família. E se você tivesse uma Bíblia nas igrejas, pode esconder em algum buraco porque o Lula vai tomar suas Bíblias", afirmou. Em seguida, a candidata disse que percorreu vários Estados defendendo Lula.
Marina desmentiu boatos de que, se eleita, acabará com programas federais. Disse que só seriam extintos se ela fosse o "exterminador do futuro". "Vocês acham que isso é um ser humano? Só se fosse exterminador do futuro. Estão subestimando a inteligência da sociedade brasileira", disse. "Chegou a vez de ganhar a Presidência da República não com base na mentira, na calúnia, na desconstrução, até porque essa já foi feita pelo Collor contra o Lula", disse.
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