- O Estado de S. Paulo
O país chega ao dia da votação para presidente da República com o céu político nublado, prenúncio de uma tempestade de proporções desconhecidas, porém, imagináveis, com origem em um quadro de corrupção sistêmica entranhado no governo desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula.
Ao lado do cenário de corrupção que, a exemplo do mensalão, mostra digitais das cúpulas dos governos do PT, um contexto econômico não menos preocupante, que o marketing oficial tenta esconder desde o início da campanha, na esperança de que não servisse à contestação da imagem de gestora da presidente Dilma Rousseff.
A gravidade que a soma desses dois cenários estabelece só ficará clara aos eleitores após a cívica ida às urnas hoje, dado que o governo obteve êxito parcial no esforço de minimizar o quadro econômico e que as investigações judiciais já avançadas no Supremo Tribunal Federal só produzirão efeitos objetivos , estima-se, em 2015.
É quando começa o mandato do eleito hoje para presidir o país que terá de iniciar a construção de sua base parlamentar em um provável quadro de desagregação partidária provocada pela etapa judicial de identificação e responsabilização dos envolvidos no esquema montado na Petrobrás, cujo grau de veracidade nem mais a presidente Dilma conseguiu negar.
A presidente passou da etapa da negação dos fatos na Petrobrás, à fase de defesa própria, desde que o doleiro Alberto Yousseff, peça-chave do esquema, disse sob o regime da delação premiada, que ela e seu antecessor, o ex-presidente, Lula, tinham conhecimento do que se passava na empresa.
O depoimento vazou e sua publicação, pela revista Veja, levou o PT a recorrer, mais uma vez, à teoria conspiratória, com a própria presidente mencionando golpe e terrorismo eleitoral. Com as bravatas de sempre, que vão de ação contra a revista até a sua retirada de circulação, o governo volta a atacar o mensageiro e ignorar o conteúdo.
Combinada com a distorção de fundamentos econômicos posta a serviço da causa eleitoral, tem-se um cenário oposto àquele prometido ao eleitor, saído da fábrica do ilusionista João Santana, em que a autonomia do Banco Central se traduz por falta de comida no prato do brasileiro, ou em, que debelar a inflação compromete a preservação de empregos.
Na vida real, o país enfrentará um difícil e traumático período de ajustes de contas nos campos econômico e político que exigirá do presidente eleito habilidade e espírito conciliatório, além da disposição de governar orientado pela aplicação da receita necessária sem se deixar conduzir pela bússola eleitoreira.
O populismo que caracteriza o período do PT no poder desautoriza otimismos em eventual reeleição de Dilma Rousseff com relação a essa combinação de virtudes. A presidente, em nenhum momento da campanha, acenou com a mudança de rumos na economia e se fechou na negação dos episódios de corrupção que ganha no seu vocabulário o sentido mais ameno de “malfeitos”.
O caso da Petrobrás a opõe ao seu padrinho político, Lula, na condução do roteiro de defesa, que começa na acusação da presidente à diretoria da estatal no período de seu antecessor, de ter omitido aos conselheiros informações indispensáveis com o intuito de aprovar a compra da refinaria de Pasadena, operação comercial no epicentro do rumoroso escândalo de corrupção política na empresa.
Lula não queria essa versão e sua imposição por Dilma, que o compromete, deu inicio a uma ruptura entre ambos, posta de lado na campanha.
A eleição chega ao seu dia sem que Dilma e Lula tenham dado qualquer garantia de que as investigações sobre a Petrobrás, homologadas pelo STF, não atingirão seus governos nesses 12 anos de governos do PT.
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