• Presidente Erdogan conclama população às ruas; confrontos têm 42 mortos
Exército justifica ação para proteger democracia, mas governo assegura ainda manter o controle do país
O governo turco sofreu uma tentativa de golpe militar que deflagrou cenas de violência pelas ruas de Istambul e Ancara, onde ao menos 42 pessoas morreram, entre elas 17 policiais no bombardeio aéreo de um quartel e 12 civis num ataque a bomba ao Parlamento. O presidente Tayyip Erdogan, que tem perseguido jornalistas e juízes, disse que a ação foi organizada “por uma minoria no seio do Exército” e conclamou a população a sair às ruas e resistir. Explosões, tiros e informações desencontradas marcaram a madrugada. Militares decretaram a lei marcial, TVs saíram do ar e os principais aeroportos foram fechados. No começo da manhã de hoje, Erdogan voltou a Istambul e disse que os traidores pagarão um preço alto pela rebelião. O país ainda lida com informações contraditórias: militares afirmaram ter tomado o poder para proteger a ordem democrática, enquanto o governo diz que mantém o controle.
Turquia sem rumo
• Militares tentam derrubar Erdogan em noite violenta em Ancara e Istambul; desfecho é incerto
- O Globo
ANCARA E ESTAMBUL - Explosões, tiros e informações desencontradas marcaram a madrugada na Turquia, com o governo sendo alvo de uma tentativa de golpe militar organizada por “uma minoria no seio do Exército”, conforme classificou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Confrontos ocorreram nas duas maiores cidades do país: na capital, Ancara, ao menos 42 pessoas morreram, entre elas 17 policiais no ataque aéreo ao quartel das forças especiais das Forças Armadas, enquanto outras 12 vítimas civis foram registradas num bombardeio ao Parlamento. Na maior cidade do país, Istambul, explosões e confrontos também foram registrados. O governo afirmou que a tentativa de golpe fracassou, mas no início da manhã (hora local), tiroteios ainda eram reportados na capital turca, inclusive no complexo presidencial.
Em comunicado pela TV estatal, que chegou a ser tomada, os insurgentes afirmaram ter tomado o poder para proteger a ordem democrática e a manutenção dos direitos humanos, e indicaram que o Estado de Direito seria prioridade. Segundo os militares rebeldes, as tradições seculares do país foram corroídas pelo governo de Erdogan, que tem adotado medidas autoritárias contra a liberdade de imprensa e perseguido jornalistas e juízes.
Em comunicado enviado por e-mail e veiculado por canais de TV turcos, os revoltosos anunciaram o toque de recolher e a aplicação da lei marcial. Redes sociais como Facebook e Twitter, e sites como YouTube tiveram as operações suspensas.
“As Forças Armadas Turcas tomaram o controle do país para restaurar a ordem constitucional, direitos humanos e liberdades, o Estado de Direito e a segurança geral que foi danificada”, indicou o comunicado assinado pelo autoproclamado Conselho de Paz na Nação, que disse não permitir “uma degradação da ordem pública na Turquia”.
Mas após horas de combates noite adentro, o premier Binali Yildirim afirmou que a “tentativa idiota” de golpe de Estado fracassara e a situação estava “amplamente sob controle”, com Erdogan — que conclamou a população a ir às ruas para apoiá-lo, num discurso transmitido pelo software FaceTime — retornando a Istambul. O presidente chegou à cidade e realizou um discurso no Aeroporto de Atatürk, informando que militares envolvidos na quartelada já estavam sendo presos.
— Essa tentativa de golpe foi um ato de traição realizado por uma minoria dentro das Forças Armadas — afirmou o presidente, que prometeu usar a ocasião para realizar o que chamou de “faxina” no Exército turco. — Estava em Marmaris, e o hotel onde estava hospedado foi bombardeado depois que saí de lá. Meu chefe de Estado Maior, Hulusi Akar, foi sequestrado pelos golpistas. Esses homens armados nas ruas estão agindo contra a nação. Esses tanques não são deles. Estes tanques foram confiados a eles e eles violaram essa confiança. Os responsáveis por essas ações pagarão um alto preço por isso.
Afirmando que não deixaria o país e permaneceria junto ao povo, Erdogan culpou o clérigo Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos, pela tentativa de golpe, classificando seus seguidores como “uma organização terrorista armada”.
— Não há poder maior que o poder do povo — afirmou Erdogan em seu pedido de apoio.
A população ocupou praças e ruas de Istambul e Ancara em apoio ao governo, seguindo a orientação do presidente em apelo transmitido pela CNN Turk. Ele suspendeu as férias para retornar à capital. A rede teve sua transmissão interrompida depois que soldados invadiram a sede da emissora em Istambul.
Segundo o primeiro-ministro Binali Yildirim, mais de 120 militares envolvidos na tentativa de golpe foram detidos. O premier também afirmou que o Exército tinha ordens expressas para derrubar um avião sequestrado por golpistas. Segundo a agência estatal Anadolu, um helicóptero usado por rebeldes foi abatido por caças da Aeronáutica.
‘Fora da cadeia de comando’
Um porta-voz da Presidência confirmou que a ação contra o governo foi realizada por um grupo fora do comando do Exército, enquanto imagens mostravam militares sendo detidos por outros membros das forças de segurança. O general Zekai Aksakalli, comandante-geral do Exército, declarou à TV local que as forças especiais estão a serviço do povo.
— Houve um ato ilegal por um grupo dentro do Exército que agiu fora da cadeia de comando. — disse o premier à rede NTV. — O governo eleito pela população continua no poder. Este governo só sairá quando as pessoas disserem isso.
O principal líder da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, do Partido Republicano do Povo, afirmou que o país já foi alvo de “uma grande quantidade de golpes” e expressou apoio ao presidente:
— Todos devem saber que o Partido Republicano do Povo é devoto à permanência de nossa democracia.
Explosões violentas e intensas trocas de tiros ocorreram em diversas áreas da capital, deixando vários feridos em meio a um cenário de caos. Jatos sobrevoavam a cidade a baixa altitude. Em Istambul, maior cidade da Turquia, forças de segurança interditaram parcialmente duas pontes que cruzam o Estreito de Bósforo, que separa a Ásia e a Europa. Militares e policiais entraram em confronto quando membros das Forças Armadas tentaram tomar o prédio da companhia telefônica Telekom. Cidadãos turcos ocuparam a Praça Taksim, palco de manifestações contra Erdogan em 2013, que foi alvo de uma explosão horas mais tarde, assim como o Aeroporto de Atatürk, que teve o terminal aéreo fechado e os voos temporariamente cancelados. Enquanto confrontos ainda eram reportados nas principais cidades, o vice-primeiro-ministro Mehmet Simsek já comemorava a vitória sobre o golpe.
— O governo tem o completo controle da situação — assegurou.
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