- O Globo
Sempre que alguma autoridade se vê alcançada por acusações, argumenta que a instituição que representa foi atacada
O presidente Michel Temer fez em seu pronunciamento no Palácio do Planalto o que orientou, ontem, seus auxiliares e aliados a fazerem: criticou duramente o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, que o denunciou ao Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva.
Valendo-se do truque de que cederia apenas a uma ilação, citou o procurador Marcelo Miller que deixou o emprego para assessorar o Grupo JBS em sua delação, e disse que ele ganhou alguns milhões de reais e que pode tê-los dividido com Janot.
“A denúncia contra mim é pura ficção”, afirmou Temer, assim como seria, embora não tenha dito, a ficção construída por ele contra Janot no caso do procurador que trocou de emprego. Segundo Temer, além de sua honra pessoal, a Presidência da República também foi atingida pela denúncia.
Outro truque, esse. Sempre que alguma autoridade se vê alcançada por acusações, argumenta que a instituição que representa foi atacada. Lula já aplicou o mesmo truque quando o escândalo do mensalão quase derrubou seu governo. Dilma, por ocasião do impeachment.
Temer acusou Janot de promover um atentado contra o país, de querer paralisar o governo e o Congresso. E se disse disposto a ir para a guerra, logo agora que “o país havia entrado nos trilhos”. Esqueceu, porém, de examinar as acusações que pesam contra ele e de refutá-las.
Não, não esqueceu. Simplesmente fugiu de respondê-las.
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