- Folha de S. Paulo
"O espectro que agora assombra as nações ricas não é a guerra de classes, mas a guerra entre gerações". A frase é do historiador Robert Fogel (1926-2013), Nobel de economia, num sintético mas luminoso livro de 2004, "The Escape from Hunger and Premature Death" (a fuga da fome e da morte prematura).
O rasante que Fogel faz de 300 anos de transformação da máquina fisiológica do Homo sapiens impressiona. Apenas no século 20, a duração da aposentadoria nas nações ricas multiplicou-se por cinco; a parcela dos que vivem o suficiente para aposentar-se, por sete; a quantidade de tempo dedicado ao lazer para aqueles ainda na força de trabalho, por quatro.
Em 1880, cerca de 80% do tempo disponível de um trabalhador era dedicado a ganhar a vida. Em 2040, estima-se que praticamente essa mesma parcela estará livre para ele fazer o que bem entender.
As implicações para a chamada economia política serão soberbas. Dá vontade de rir dos debates contemporâneos sobre "defender as indústrias e os empregos locais", que inspiraram a reforma tributária nos EUA de Trumprecentemente.
As preferências de cidadãos longevos emancipados da labuta, fartos de infraestrutura urbana e habitacional e bens industriais, vão agigantar mais o setor de serviços. O gasto com saúde nos Estados Unidos correspondia a 5% do PIB em 1960. Hoje ultrapassou os 18% e continuará subindo até onde a vista alcança.
Significa que o bem-estar virá cada vez menos da capacidade industrial das nações e mais da sua eficiência na oferta de lazer, saúde e educação em todas as etapas da vida, em especial na maturidade.
Os mais jovens, progressivamente diluídos no eleitorado, correm riscos de superexploração caso os sistemas de previdência não sejam equilibrados. Eis a guerra intergeracional, silenciosa e destruidora, da qual Fogel dá notícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário