Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - "Acho que ele ganha a eleição [à Presidência]". Em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio, o vereador e ex-prefeito da capital Cesar Maia (DEM) não está falando do filho e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que lançará pré-candidatura ao Planalto na próxima semana. A aposta firme e direta é no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). "É muito forte. É o político que hoje tem o maior poder de aglutinação como candidato a presidente", diz o parlamentar, numa entrevista exclusiva e surpreendente ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, à qual logo reagiu o filho.
Sem apoio do pai, Rodrigo Maia respondeu, por meio de nota, que discorda da ideia de que Alckmin seja o favorito na corrida presidencial e sugeriu que a divergência do ex-prefeito tenha como objetivo protegê-lo de um eventual fracasso eleitoral. Uma derrota ao Planalto deixaria Rodrigo com reduzida influência política, sem mandato e sem foro privilegiado, algo importante tendo em vista que é alvo, ao lado do pai, de inquérito da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). "Cesar Maia falou como pai, preocupado com o filho. Até porque ele sabe muito bem que, pelo cenário hoje das pesquisas, as possibilidades de eleição de um candidato do PT e PSDB são pequenas", disse o presidente da Câmara.
Não é o que pensa Cesar Maia, que considera o governador tucano "muito forte" porque, em suas palavras, é um candidato "residual". "Se não sei com quem eu vou, o Alckmin é um homem de bem, é um crente, enfim, tende a ser um candidato que não cria dificuldade para se apoiar e ser votado". Enquanto as lembranças de 2006 costumam destacar o feito de Alckmin ter obtido menos votos no segundo turno do que no primeiro, o ex-prefeito destaca o desempenho na primeira etapa: "O Lula teve 48% e ele 41%. Tem todas as condições. O Brasil precisa disso".
Aponta o estilo "plástico" de Alckmin, a "proximidade que ele cria" e a "intimidade fácil" que desperta nas pessoas em geral e nos aliados. Muito diferente, compara, do perfil de outro tucano, José Serra, que foi presidenciável assim como Alckmin. Cesar Maia acompanhou ambos de perto, quando se candidatou ao Senado em 2006 e 2010. "Coisa completamente diferente. Com Serra, fazia campanha com dificuldade, tinha exigências etc. Com Alckmin era total tranquilidade. Foi ao Engenhão, a Bangu, em favela, subimos o Morro da Providência", conta.
Cesar Maia faz pouco caso da viabilidade de uma candidatura do campo governista, onde se situa o filho Rodrigo. Minimiza as chances de uma eventual postulação do presidente Michel Temer ou do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que cogita trocar o PSD pelo MDB. "O campo governista não existe hoje", frisa. Ao comentar as pretensões de Meirelles - que tem apenas 1% das preferências nas pesquisas eleitorais - recorda a marchinha de 1963, cantada por Cauby Peixoto: "Não tem aquela música? 'Vou lambuzando selo/ Se colar, colou'... Numa dessa pega e vai". Não é candidatura competitiva, acredita, mas "estamos no Brasil". "Se tivesse numa política orgânica, o cara não poderia passar de 2% para 12%, mas no Brasil pode acontecer", reconhece.
Em sua opinião, porém, o MDB não se desviará da longa e eficiente estratégia de ser um partido confederado: "porque cada Estado é um partido forte e porque não tem candidato a presidente" elege sempre a maior ou segunda maior bancada federal.
Temer seria cristianizado, ou seja, abandonado pelos candidatos a deputado, senador e governador? "Sim, certamente. Mas ser cristianizado não é o problema. O problema é quantos deputados federais eles vão perder com essa cristianização? Esse é o pavor deles", aponta. "Hoje a eleição mais importante é para deputado federal - mais que para presidente - porque o tamanho da bancada é o critério de distribuição do fundo partidário, eleitoral e do tempo de TV", diz. E a expectativa para o MDB já não seria boa durante a abertura da janela partidária, nas próximas semanas, com uma debandada de deputados, "a começar pelos do Rio de Janeiro".
"O que eles [MDB] vão fazer, onde, como? Não tem candidatura. O Temer até podia ser, porque é uma não candidatura. Bota lá o nome, defende o governo, mas não é para os deputados do Rio Grande do Sul ou de Pernambuco se agarrarem nele e fazerem campanha. Não vejo o MDB com candidato para valer a presidente da República", afirma o ex-prefeito, também conhecido pela elaboração de análises políticas no ex-Blog do Cesar Maia.
Para ele, é Alckmin quem tem o perfil ideal para ocupar o Planalto. Apesar dos planos do filho à Presidência, vislumbra para Rodrigo outro projeto. "Ele tem que ser candidato a deputado federal. Tem que se eleger bem. E tem que ser candidato a presidente da Câmara dos Deputados. Por quê? Porque o próximo presidente vai ter que, no primeiro dia de governo, adotar medidas contundentes que possam relançar o país", diz.
Para o ex-prefeito, a missão do filho é ser o esteio do próximo presidente da República, pertença o eleito à esquerda ou à direita. "Para qualquer um", diz, ao destacar que Rodrigo tornou-se confiável para os partidos de esquerda. "Com um Parlamento fragmentado, ele [o presidente da República] precisa de liderança no Parlamento que construa essa maioria. Quantos na Câmara constroem uma maioria? Rodrigo, quem mais? Qual outro nome que vai surgir aí?", pergunta, para acrescentar que, no MDB, os nomes que havia, como Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, estão presos.
O mais provável, afirma, é que Rodrigo "construa uma situação de conforto" ao próximo presidente da República, que poderia pensar: "Eu terei uma Câmara dos Deputados que não será hostil. Com Rodrigo, eu posso superar o presidencialismo de coalizão. Não preciso fazer uma coalizão bastarda para ter uma maioria", diz. Em sua opinião, a presidência da Câmara será uma posição ainda mais forte na conjuntura de um novo presidente da República eleito e em busca de reformas. Não vê sentido nas ambições do filho de concorrer ao Planalto.
"Não vejo porque ele ter que abrir mão dessa situação que ele conquistou, com a habilidade dele, com a paciência dele, a audiência dele - ele ouve, o que é raro em político, eu não ouço. Numa situação dessa, que opção é essa de Presidência?", questiona. Para Cesar Maia, "assim como Rodrigo tem o maior poder de aglutinação na Câmara", Alckmin é o político que hoje "tem o maior poder de aglutinação como candidato a presidente".
Um dos desafios para o tucano, afirma, será escolher alguém para compor sua chapa. No momento em que Alckmin começar a subir nas pesquisas, a disputa se acirrará. "Todos vão querer colocar o vice. E aí começa. Como você tricota a escolha do vice do Alckmin? Esse vai ser um problema, que ele, com a habilidade dele, vai ter que resolver", diz. A atual movimentação de Rodrigo poderia o cacifar ao posto? "Se depender de mim, não. Não estou participando de pré-candidatura de ninguém, nem do Rodrigo. Mas acho que, para o país e para ele, o melhor é a candidatura a deputado e a presidente da Câmara", reafirma.
Cesar considera que o desempenho do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC, de saída para o PSL), líder nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode ficar inelegível, "já foi mais impressionante". No último levantamento do Datafolha, Bolsonaro oscilou entre 18% e 20%. "Ele teve todas as condições para sair desse patamar. É como se tivesse chegado ao teto", afirma. Por outro lado, acrescenta, se o deputado mantiver esses percentuais, é muito provável que Bolsonaro estaria no segundo turno, por causa da dispersão de candidaturas que se desenha nesta eleição.
Mas a dificuldade, pondera, será manter o patamar de votos na campanha, devido à escassez de recursos e de tempo de TV. A dinâmica da disputa com os adversários também pode prejudicá-lo, analisa. O parlamentar receberá pancadas de dois políticos "batedores" como Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos) e pode ser alvo do efeito bumerangue ao atacar a figura mais "delicada" de Marina Silva (Rede), aumentando a rejeição do eleitorado feminino. Bolsonaro, acredita, mostrará seu potencial depois da janela de transferência partidária, que se abre na quarta-feira: se reunir mais de 20 deputados no PSL, ganha musculatura. Bolsonaro espera atrair até o dobro desse número.
Sobre a eleição a governador no Rio, Maia diz que não tem intenção de concorrer pois, aos 72 anos, não teria mobilidade para acompanhar os candidatos do DEM pelo Estado. Conta que é pressionado pelos correligionários mas que seria um anticandidato. "Falei: 'Vamos escrever no papel para depois não reclamarem de mim na campanha'. Mas pretendo não fazer esse sacrifício. Espero que a gente encontre outro nome".
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