Após
a operação no Jacarezinho, as crianças continuam lá, desassistidas e à espera
do próximo tiroteio
Um
mural com o rosto de Wilson Witzel desenhado com milhares de balas de fuzil foi
retirado do Palácio Guanabara. A obra, de exagerado mau gosto, deixou o prédio
pela porta dos fundos, no último adeus ao governador deposto. Cláudio Castro,
seu substituto, sonha com um retrato igual.
Ao assumir em definitivo o comando do estado, Castro afirmou que o Rio de Janeiro, olhado hoje pelo restante do país com desconfiança e descrédito, é "a Geni do Brasil" —referência à personagem da canção de Chico Buarque que leva pedrada, é feita para apanhar e é boa de cuspir. Cantor gospel, ele não prestou atenção à letra da música ou não sabe interpretá-la. Em sua essência desesperada e trágica, Geni é a população que vive nas favelas e que, em vez de pedrada, leva tiro.
Seis
dias depois de efetivado no cargo, Castro fez o que Witzel —que mandava mirar e
atirar na cabecinha— não conseguiu em seu mandato: realizar a operação mais
letal da história do Rio. Após quatro horas de tiroteio, a ação da Polícia
Civil no Jacarezinho terminou com pelo menos 28 pessoas mortas (um policial).
Um passageiro do metrô foi baleado dentro do vagão. Moradores relataram
excessos e execuções.
Um
dos chefes da tropa, o delegado Rodrigo Oliveira criticou o "ativismo
judicial". A invasão ocorreu apesar de o STF
ter suspendido operações em favelas durante a pandemia. Pelo tom
ríspido de suas palavras, acredito que o agente público tenha recebido carta
branca do governador (ou quem sabe até de Bolsonaro) para discursar como
político.
A
justificativa para o massacre —defender criancinhas que estão sendo cooptadas
pelo tráfico— lembra a pauta de costumes bolsonarista ou a tática miliciana
para a ocupação de territórios.
Depois de terror, o movimento segue como sempre no Jacarezinho, e as crianças continuam lá, largadas e esquecidas pelo governo, no meio do próximo bangue-bangue.
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