A
Polícia Civil saiu para cumprir 21 mandados de prisão no Jacarezinho. Cumpriu
apenas três. Três entre os que deveriam ser presos morreram. A Polícia Civil
saiu para cumprir 21 mandados de prisão e voltou com 25 mortos – entre os
quais, um policial. Um fracasso. E muito mais que um fracasso.
Dois
cidadãos feriram-se enquanto estavam no transporte público. Uma operação,
supostamente lastreada em inteligência, preparada no curso de dez meses, que
vai a campo, por exemplo, sem demandar a interdição do funcionamento de metrô e
trem. Que inteligência é essa? O que será, então, estupidez?
Em
nenhum lugar, em nenhum lugar em que haja fronteiras entre Estado e barbárie,
uma operação policial que acabe com 25 mortos poderia ser tratada como um
sucesso. E defendida pelo governador.
Não se pode considerar natural que – em nome do enfrentamento ao crime organizado – os procedimentos do Estado assumam a forma das práticas da bandidagem. Vale tudo é a lógica do criminoso. Num país sério, o chefe da polícia tinha caído e o governador estaria se desculpando. Não Claudio Castro. Aliás, em nenhum lugar do mundo, em que, claro, haja limites legais, o que houve ontem no Jacarezinho seria chamado de operação policial. Mais que um fracasso, um massacre. Um massacre, não importando quem fossem os mortos.
Há
muitos relatos, de fontes diversas, sobre execuções – indivíduos que teriam
sido mortos sem qualquer confronto. E há diversos relatos de cenas adulteradas.
Corpos – corpos de pessoas já mortas – levados a hospitais, como se para
atendimento; o que seria fraude processual. Isso será investigado?
Até
a noite de ontem, quinta, dia da barbárie, nenhum corpo havia chegado ao
Instituto Médico Legal. A barbárie se passara de manhã. Até a manhã de hoje,
mais de 24 horas depois, ainda não estavam os corpos todos no IML. Até as 11h
de hoje, o processo de autopsia não tinha começado. Por quê? Por que a demora?
E
quem são esses mortos, tratados todos como traficantes pela polícia? Por que,
às 13h desta sexta, o Estado ainda não havia divulgado os nomes? E: ainda que
fossem todos bandidos, como afirma a polícia, como morreram? Em confronto
mesmo? Quantos tiros levaram? E a qual distância? Estavam todos armados? Tudo
isso importa, se falamos do – e sob o – Estado.
Essas
respostas poderão ser todas dadas?
A
estrutura de guerra do crime – como se percebe no poderoso arsenal apreendido –
existe. Um policial morreu; porque bandido não recebe a polícia com flores.
Sabemos. Mas o Estado pode enfrentar isso – e mesmo a dor da perda de um seu
agente – com quaisquer meios? Não pode, se ainda for Estado.
Tivemos,
ontem, um comportamento da Polícia Civil de todo fora dos marcos. Não apenas
por haver tomado a frente na ação, com a PM afastada, indo para a guerra; mas
também pelo que foi dito na entrevista coletiva, horas depois, em que
delegados, com preocupante discurso politizado, sentiram-se à vontade para
investir contra o Supremo.
Há
um fato a merecer atenção. Um policial, sujeito honrado, morto logo no início
da ação. E então, a seguir, os 24 outros mortos. Teria a polícia ido à forra
para vingar o seu?
Que
polícia é essa que, sob a intenção de proteger menores da cooptação pelo crime,
invade casas e mata dentro do quarto de uma criança? Mata, leva o corpo e deixa
a moradia – de inocentes – banhada de sangue.
Uma
ação celebrada por essa direita brasileira burra; para quem, numa intervenção
policial em favela, só haveria policiais e bandidos – sobre os moradores
pesando um permanente estado de suspeição, criminosos em potencial ou
coniventes com a bandidagem. De modo que, se morrem, seria consequência
aceitável, efeito colateral, do combate ao crime. Nunca ouvimos isso?
Estamos lascados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário