Jair
Bolsonaro pode se preparar para continuar irritado. A CPI da Pandemia pretende
juntar munição para "encher o saco" do presidente, como ele
demonstrou temer em seu mais recente ataque verborrágico.
Transcorrida
a primeira semana de depoimentos da CPI da Pandemia, os senadores do chamado
G7, o grupo dos independentes e oposicionistas que tem a maioria na comissão,
já definiu três linhas principais de investigação que podem levar à
responsabilização de Jair Bolsonaro e de Eduardo Pazuello, em cuja gestão à
frente do Ministério da Saúde ocorreu a disparada do número de mortes e casos
de covid-19.
São os seguintes os eixos a partir do qual devem ser organizados os depoimentos, e que deverão nortear também o relatório final de Renan Calheiros:
1)
a recusa reiterada na compra e no financiamento de vacinas, conjugada com a
falta de esforços para sua análise e aprovação pela Anvisa.
Alguns
dos depoimentos da semana que vem vão aprofundar as apurações para chegar à
cadeia de comando da ordem para não adquirir vacinas que foram oferecidas ao
governo federal pela Pfizer e por outros fabricantes.
São
os do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten e dos
representantes da Pfizer, Carlos Murillo e Marta Diéz. A ideia é traçar a
cronologia exata das tratativas entre a empresa e o governo federal, bem como
quais integrantes dos diversos ministérios participaram e opinaram contra a
aquisição antecipada dos imunizantes.
2)
gasto de recursos públicos para a produção e a aquisição de medicamentos sem
eficácia comprovada para o tratamento da covid-19, bem como a adoção de
protocolo para seu uso precoce e o envio de grandes quantidades para Estados e
municípios.
A
ideia aqui é deixar provado que Bolsonaro priorizou a compra, fabricação e
indicação de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina à aquisição de
vacinas, comprovadamente mais eficazes para conter a pandemia.
A
adoção do protocolo do chamado "kit covid" para casos leves e
iniciais da doença, à revelia de evidências científicas e depois da recusa de
dois ministros em consigná-lo também deve ser apontada como irregularidade e
imputada ao presidente e a Pazuello.
3)
ações do presidente para estimular a chamada "imunidade de rebanho"
em Estados e municípios, com incentivo à tese de que quanto antes maiores
parcelas da população contraíssem o vírus mais rapidamente a pandemia seria
debelada.
A
tese anticientífica de que seria possível atingir imunidade de rebanho sem
vacina foi defendida por governistas como o deputado Osmar Terra, e a
necessidade de "enfrentar" o vírus foi repetida por Bolsonaro
seguidas vezes.
De
acordo com os senadores, as aglomerações defendidas ou promovidas pelo
presidente, inclusive em solenidades oficiais, e as vezes em que ele recorreu a
STF para tentar sustar medidas de distanciamento social adotadas por
governadores e prefeitos entram nesse quesito.
Um depoimeto chave para tentar construir esta tese será o do vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho, segundo quem Manaus foi usada como "laboratório" da tese de imunidade de rebanho, o que teria criado o ambiente propício à mutação do coronavírus e o surgimento da variante P1.
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