Folha de S. Paulo
Resposta de Janja a discordâncias em relação
à sua fala sobre as redes sociais, durante evento na China, é tiro no pé do
feminismo
Um dos maiores inimigos do feminismo é
o uso de pautas caras ao movimento como escudo contra críticas a mulheres.
Por óbvio, nem toda discordância com atos ou
falas de pessoas do sexo feminino é machista, ainda mais quando elas integram o
campo da política. Nessas situações, principalmente, a crítica é uma ferramenta
histórica de escrutínio do poder.
Tal escudo é nefasto porque coloca as mulheres num lugar irracional e vitimista. Parece que somos incapazes de demonstrar que uma oposição não se sustenta. Resta só a opressão ressentida e, às vezes, imaginária.
Ademais, diminui-se a gravidade dos casos em
que de fato há preconceito ou violência. Se tudo é machismo, nada
é machismo. E esse esvaziamento é explorado por setores sexistas. Ou seja, o
feminismo dá um tiro no pé.
Assim, na visita do presidente do Brasil à
China, a primeira-dama
não foi criticada por ser mulher, mas porque ela e seu marido emitiram
opinião controversa sobre um tema importante e sensível: a regulação
das redes sociais.
Janja demonstrou
desconforto com a plataforma
TikTok, e Lula pediu
auxílio à ditadura chinesa para lidar com "a questão digital" no
Brasil, que tem a democracia como regime de governo.
Ora, dado o contexto doméstico —com decisões
do STF que minam a liberdade de expressão, a histórica sanha intervencionista
petista e um projeto de lei equivocado sobre o tema no Congresso—, estranho
seria não apontar os riscos do discurso do casal.
Mas Janja respondeu acusando misoginia,
inclusive por parte da imprensa. Não só ela. Gleisi
Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, e Márcia Lopes, ministra
das Mulheres, seguiram o mesmo caminho vitimista.
É vexatório que mulheres em posição de poder
manipulem o feminismo dessa forma só para fugir de uma crítica que se faz
necessária. Afinal, o governo federal elabora um projeto de regulação da
internet que já emite sinais de alerta, como a criação de um órgão estatal que
teria a função de fiscalizar e punir plataformas. Não à toa, Lula foi pedir
ajuda ao chefe de uma ditadura.
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