O Globo
O presidente deverá apostar em se conectar
com a indignação dos eleitores
O cafezinho servido no Palácio do Planalto
tem sido usado como metáfora para ilustrar a estratégia do presidente Lula para
2026. Integrantes do governo costumam dizer que não adianta servir um expresso
com pouco adoçante a quem gosta da bebida pura e aos que preferem uma dose
extra de açúcar. O meio-termo desagradará aos dois extremos. Segundo essa
lógica, não dá para atender ao mesmo tempo o público moderado e o radical. Por
isso o plano do chefe do Executivo envolverá uma combinação de elevar o tom dos
ataques ao statu quo, reforçando o coro do “nós contra eles”, com medidas que
toquem no bolso da classe média.
Daqui até 2026, o Lula que deverá se lançar à reeleição se aproximará mais da figura política controversa de 1989, que emergiu atacando as elites, que do político pragmático de 2002, signatário da “Carta ao povo brasileiro” para tranquilizar o país. O discurso conciliatório na posse em 2023 e a promessa de unir a nação numa frente ampla de partidos de centro têm cedido terreno à retórica antissistema, alicerçada na retomada da popularidade e na dispersão de líderes da direita.
Lula deverá apostar cada vez mais em se
conectar com a indignação dos eleitores, criticando a Faria Lima e
antagonizando o Congresso. A ideia é hastear as bandeiras da redução da jornada
de trabalho, da taxação das grandes fortunas e da tributação das bets. Se não
conseguir emplacar essas pautas, a culpa será dos “outros que não deixaram”.
A lógica maniqueísta, que joga contra o
futuro do país, será impulsionada tanto pelo bunker eleitoral montado no
entorno do presidente quanto pela investida do PT na guerra digital contra a
oposição. Além de contar com os conselhos do marqueteiro Sidônio Palmeira,
mandachuva da comunicação do governo, Lula terá a seu lado o deputado Guilherme
Boulos (PSOL-SP), novo ministro da Secretaria-Geral, que recebeu a missão de
mobilizar os movimentos sociais a favor das pautas do Planalto. O parlamentar
fará dobradinha palaciana com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi
Hoffmann, ex-presidente do PT, que tem se tornado mais porta-voz da polarização
do mandatário que articuladora política.
Alinhado com essa estratégia, o PT
reestruturou seu braço de comunicação para aumentar o engajamento das brigas
compradas pelo presidente. O partido montou uma equipe própria que atua em
sintonia com um grupo de influenciadores digitais arregimentados para espalhar
conteúdos de interesse de Lula, nutrindo o algoritmo da polarização política.
Entre os assuntos designados pela legenda para propagar nas redes, está um
organograma que, sem provas, associa o ex-mandatário Jair Bolsonaro ao
empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, no escândalo de
desvio de aposentadorias que ameaça o atual governo.
Além da retórica, o presidente aposta num
combo de medidas eleitorais para reconquistar parte da classe média, segmento
em que a gestão petista derrapa desde a recessão e o escândalo do petrolão que
minaram o governo Dilma. A ideia é ampliar o alcance da imagem de Lula para
além do “pai dos pobres”. Nesse terreno, são adubados a isenção do Imposto de
Renda para quem ganha até R$ 5 mil e um novo modelo de crédito imobiliário para
comprar a casa própria. Nas palavras de um auxiliar palaciano, as eleições de
2026 deverão ser vencidas ainda em 2025, fazendo a máquina pública girar a
favor da reeleição do líder petista.
A cartilha seguida por Lula contraria a do
Lula candidato em 2022, quando criticou o então presidente Jair Bolsonaro por
ser radical e usar o Planalto a seu favor nas urnas:
— Temos um cidadão que está na Presidência e
que está usando a máquina do governo para fazer campanha (…). Quando eu era
presidente, a gente só saía para fazer campanha às seis da tarde — disse à
época o líder petista , que agora ativa o modo eleitoral antes do fim do
expediente.

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