DEU EM O GLOBO
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenou o comportamento do presidente Lula em relação à imprensa, dizendo que ele ataca e faz "críticas desmedidas" quando o enfoque do noticiário não lhe agrada. (págs. 1 e 5)
Entidade condena ataques de Lula à imprensa
Relatório da SIP, que representa empresas jornalísticas do continente, alerta para tentativa de interferência
BRASÍLIA. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) divulgou um relatório no qual condena as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à imprensa. O texto cita entrevista recente de Lula à revista "Piauí", na qual o presidente disse que não lê jornais para evitar ter azia. Para a entidade, Lula "sempre ataca a imprensa e lança críticas desmedidas quando não lhe agrada o enfoque do noticiário ou um comentário".
A SIP, que representa as principais empresas jornalísticas do continente, classifica de preocupantes algumas iniciativas do governo no setor, como o apoio à realização da Conferência Nacional de Comunicação, em dezembro. Para a entidade, os debates serão conduzidos por ONGs e movimentos sociais que pretendem interferir no funcionamento da imprensa.
A SIP afirma que Lula tem o hábito de se dizer vítima de distorções na imprensa: "Uma breve retrospectiva das notícias mostra que o presidente Lula tem dificuldades para aceitar o trabalho dos jornalistas". O texto lamenta ainda que o presidente tenha dito à revista se considerar bem informado, mesmo sem ler jornais.
De acordo com o documento, tramitam hoje no Congresso 86 projetos que impõem restrições à publicidade. Para a entidade, a maioria das propostas ameaça a independência dos veículos de comunicação. A SIP usou como exemplo os estudos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para restringir anúncios de bebidas, remédios e alimentos. Sobre isso, o texto cita uma declaração do presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril, Roberto Civita: "Sem publicidade, seria impossível manter o pluralismo nos meios de comunicação".
O relatório relaciona ainda dez episódios de cerceamento ao trabalho de jornalistas no país desde outubro de 2008. O texto foi divulgado ontem, ao fim de uma reunião da SIP em Assunção, no Paraguai. A entidade também publicou informes sobre a situação da imprensa em outros 27 países. O Palácio do Planalto não quis comentar o relatório sobre o Brasil.
O documento também destaca que o Supremo Tribunal Federal deve decidir nos próximos meses se mantém ou não a obrigatoriedade do diploma de jornalista no país. A SIP ressalta que as empresas de comunicação e alguns setores do governo, como o Ministério da Educação, já defenderam a flexibilização dessa exigência.
A entidade também acusa o governo de não cumprir resolução do Ministério do Trabalho que cria um grupo para propor mudanças na legislação que regulamenta o exercício da profissão de jornalista. O relatório ressalta que o grupo não é composto de forma igualitária por representantes do governo, das empresas e dos trabalhadores.
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