DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Milhares aproveitam celebração do Dia do Estudante em Teerã e outras cidades para protestar de novo contra o regime
Seis meses após polêmica reeleição de Ahmadinejad, atos se voltam contra líder supremo; EUA criticam desrespeito à população
Milhares aproveitam celebração do Dia do Estudante em Teerã e outras cidades para protestar de novo contra o regime
Seis meses após polêmica reeleição de Ahmadinejad, atos se voltam contra líder supremo; EUA criticam desrespeito à população
DA REDAÇÃO
Após um mês de relativa calma, o Irã voltou ontem a ser palco de violentos confrontos entre oposicionistas e forças de segurança do regime, que está sob pressão interna e externa.
Os incidentes mostram que a onda de protestos deflagrada pela controversa reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho, segue viva e que o clima no país é explosivo.
Manifestações que reuniram milhares de pessoas em Teerã e outras cidades foram reprimidas a balas de borracha, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, deixando vários feridos.
Integrantes da milícia voluntária Basij ampararam a ação dos policiais e ajudaram a prender manifestantes.
As circunstâncias e o desfecho do dia de protestos eram incertos, já que o governo iraniano suspendeu por 48 horas as autorizações de trabalho dos jornalistas estrangeiros, tornando ilegal a cobertura dos incidentes in loco. A internet e redes de celular foram cortadas.
Os oposicionistas usaram tática igual às últimas vezes em que se manifestaram: ir às ruas em meio a uma celebração nacional para aproveitar a brecha que permite agrupamentos em público-houve protestos anti-Ahmadinejad em setembro, no Dia contra Israel, e no mês passado, no 30º aniversário do sequestro da embaixada americana em Teerã.
Desta vez os manifestantes aproveitaram a comemoração do Dia do Estudante, que lembra a morte de três universitários pelo regime do xá em 1953.
Segundo testemunhas e jornalistas que driblaram o cerco, os maiores protestos de ontem ocorreram dentro e nos arredores das universidades de Teerã, que foram cercadas e isoladas.
Também houve registros de manifestações nos campi universitários de Kerman, Meshed, Isfahan, Hamdean e até em Sanandaj, localizada no Curdistão iraniano.
Em todos os protestos, de acordo com relatos, as pessoas gritaram "morte ao ditador" e queimaram cartazes com o retrato do líder supremo Ali Khamenei, refletindo a aparente mudança de foco dos protestos, que antes focavam o presidente Ahmadinejad.
A ira aberta contra a antes intocável figura de Khamenei é tida como sinal de que a revolta vai além da simples contestação do pleito de junho, pelo qual Ahmadinejad foi reeleito com 62,46% dos votos, contra 33,8% para o reformista Mir Hossein Mousavi.
Khamenei, além de ter avalizado a reeleição do presidente em meio a indícios de fraude, simboliza, aos olhos de parte da população, a rigidez do sistema de leis que rege a vida dos 66 milhões de iranianos desde a Revolução Islâmica de 1979.
"[O regime] nos pede que esqueçamos de vez o resultado das eleições, como se as pessoas só estivessem preocupadas com isso", escreveu Mousavi em comunicado anteontem.
À onda oposicionista pró-Mousavi, liberal e urbana, se opõe um movimento predominantemente popular e rural, apegado a valores tradicionais e que apoia os esforços do governo para silenciar uma oposição tida como ameaça às fundações do Estado teocrático.
Os EUA e o Reino Unido ontem acusaram o governo iraniano de desrespeitar o direito da população a se manifestar pacificamente.
A repressão ameaça minar ainda mais o clima nas emperradas conversas em que Teerã tenta convencer as potências de que seu programa nuclear visa produzir energia, não bombas atômicas.
Com agências internacionais e o "Financial Times"
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