DEU NO VALOR ECONÔMICO
Por mais que seja natural a euforia no quartel general da campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ainda sediado na Presidência da República, políticos mais experientes de partidos da base do governo estão alertando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a evidência de que duas cartas importantes na definição do quadro eleitoral da sucessão ainda estão fora do jogo. São elas Aécio Neves e Ciro Gomes.
O pior para os interessados em cada um desses nomes é que não precisam definir seus projetos agora, não precisam dizer se vão se candidatar a isto ou aquilo, podem manter sob tensão seus aliados, deixar as chapas incompletas e aguardar melhor hora e maior clareza para anunciar o que farão.
A pesquisa Datafolha divulgada no domingo, que na avaliação do governo comprovou todas as teorias discutidas nos últimos três meses entre os partidos da aliança, serviu para o presidente Lula apontar aos aliados o que considera acerto de sua estratégia - a polarização com o PSDB, o crescimento da candidata do PT à medida em que vai se tornando conhecida, a redução do peso do PMDB na coligação e, principalmente, a demonstração ao candidato Ciro Gomes de que seu nome não tem lugar na disputa presidencial, devendo portanto ir para a briga pelo governo de São Paulo.
Mas esta é uma avaliação interna, íntima do grupo de auxiliares de Lula. Ciro ainda não jogou a toalha, resiste a abandonar a campanha presidencial, vai conversar com o presidente em meados deste mês mas talvez só anuncie decisão, se anunciar, lá por abril.
Ele quer esperar a definição e anúncio da candidatura de José Serra. Se Serra for candidato a presidente, há chances de Ciro disputar São Paulo para fazer o palanque destinado a sangrar o PSDB, como deseja Lula, e dar lastro para Dilma. Se Serra ficar para a reeleição, Ciro, segundo seus mais próximos amigos, permanecerá no jogo federal. E aqui as opiniões se dividem. Há até os que acham que Ciro é um dos poucos que ainda creem na desistência de Serra da campanha à sucessão de Lula. Na conjectura em vigor hoje, Serra daria lugar para Aécio e, deste, Ciro seria até vice. Aécio sairia então candidato a presidente, depois de ter se retirado da disputa, com apoio do PSB, do PP, do PTB, e até do PMDB. Não faz sentido e não há sinais concretos de que isto possa se transformar em algo provável, mas são hipóteses dos aliados de Ciro para demonstrar como ele está longe de uma definição.
A carta-Ciro, portanto, ainda não está no jogo e, de fora, cria problemas para a candidata do PT. Por exemplo: um candidato precisa encontrar defeitos no outro até para ressaltar as qualidades que pensa possuir. E Ciro tem citado as deficiências não só de Dilma Rousseff mas, até mesmo, do maestro de todos do seu grupo, o presidente.
Está fora do jogo, também, a carta Aécio. Se o governador de Minas optar pela candidatura a vice-presidente, o cenário eleitoral ficará mais favorável à oposição, mas se limitar-se à campanha regional provocará alterações profundas nas expectativas do seu partido.
O PSDB gostaria muito que Aécio se definisse logo, mas o governador de Minas, agora, não tem a premência que via na definição do quadro sucessório no ano passado. Aécio viajou no Carnaval, saiu de cena, todos correram a contactá-lo, pedindo definições que ele exigia há meses de todos. Não há o menor sinal de pressa. Para declarar-se candidato a vice-presidente ou senador, Aécio pode esperar até junho.
O PT gostaria que Ciro Gomes optasse logo pela candidatura ao governo de São Paulo para "tirar esse pesadelo do caminho da Dilma", como definiu um aliado, e liberar os candidatos petistas que ficaram amarrados a esta definição. Mas ele tem tempo.
Sua candidatura ao governo de São Paulo foi meticulosamente armada pelos partidos aliados em conjunto com o presidente Lula, e é tensa a torcida pelo seu desenlace da candidatura presidencial.
De acordo com o raciocínio que determinou a estratégia até aqui executada, e nasceu da discussão do PSB e PCdo B, eleição no Brasil não se define com muita antecedência, a correlação de forças vai se formando ao longo dos meses.
A análise apontou-lhes que as forças que representam (chamadas progressistas, o que nem sempre são, ou de centro-esquerda) têm uma base social, empresarial, intelectual, mas seus adversários, (que chamam de conservadores), são também ainda muito fortes.
Quando Ciro apresentou sua candidatura a presidente, esses partidos, inclusive o seu, que gostaria desde o início ter acompanhado Lula e apoiado Dilma, resolveram incorporá-la como mais uma candidatura governista, sendo Dilma de um "campo", Ciro do outro. E promover mais à frente uma unidade. Procurou-se, então, uma alternativa, uma saída para Ciro se o tempo fosse armando a unidade em torno de Dilma e não dele, como gostaria. Surgiu a idéia de incentivar a transferência do domicílio eleitoral de Ciro para São Paulo, de forma que ele tivesse uma alternativa quando a aliança se firmasse em torno de Dilma. Foi o deputado Henrique Fontana, líder do PT à época, quem levou a proposta ao presidente Lula, que a encampou imediatamente.
Ciro tendo uma válvula de escape, acreditava-se à época, haveria a distensão das relações desses partidos da aliança com o PT, com a possibilidade, acreditavam, de tornarem-se preferenciais na aliança em detrimento do PMDB.
No meio do caminho encontrou-se a resistência do PT paulista, agora considerada superada. Ciro não tem mais receio de Marta Suplicy ou Aloizio Mercadante, mas não define seu rumo enquanto José Serra não anunciar o que vai fazer. Os partidos aliados a Lula estão tão no ar quanto estavam antes da reunião que fizeram semana passada em Brasília com o candidato e da pesquisa Datafolha que apontou estacionada a candidatura presidencial de Ciro.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Por mais que seja natural a euforia no quartel general da campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ainda sediado na Presidência da República, políticos mais experientes de partidos da base do governo estão alertando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a evidência de que duas cartas importantes na definição do quadro eleitoral da sucessão ainda estão fora do jogo. São elas Aécio Neves e Ciro Gomes.
O pior para os interessados em cada um desses nomes é que não precisam definir seus projetos agora, não precisam dizer se vão se candidatar a isto ou aquilo, podem manter sob tensão seus aliados, deixar as chapas incompletas e aguardar melhor hora e maior clareza para anunciar o que farão.
A pesquisa Datafolha divulgada no domingo, que na avaliação do governo comprovou todas as teorias discutidas nos últimos três meses entre os partidos da aliança, serviu para o presidente Lula apontar aos aliados o que considera acerto de sua estratégia - a polarização com o PSDB, o crescimento da candidata do PT à medida em que vai se tornando conhecida, a redução do peso do PMDB na coligação e, principalmente, a demonstração ao candidato Ciro Gomes de que seu nome não tem lugar na disputa presidencial, devendo portanto ir para a briga pelo governo de São Paulo.
Mas esta é uma avaliação interna, íntima do grupo de auxiliares de Lula. Ciro ainda não jogou a toalha, resiste a abandonar a campanha presidencial, vai conversar com o presidente em meados deste mês mas talvez só anuncie decisão, se anunciar, lá por abril.
Ele quer esperar a definição e anúncio da candidatura de José Serra. Se Serra for candidato a presidente, há chances de Ciro disputar São Paulo para fazer o palanque destinado a sangrar o PSDB, como deseja Lula, e dar lastro para Dilma. Se Serra ficar para a reeleição, Ciro, segundo seus mais próximos amigos, permanecerá no jogo federal. E aqui as opiniões se dividem. Há até os que acham que Ciro é um dos poucos que ainda creem na desistência de Serra da campanha à sucessão de Lula. Na conjectura em vigor hoje, Serra daria lugar para Aécio e, deste, Ciro seria até vice. Aécio sairia então candidato a presidente, depois de ter se retirado da disputa, com apoio do PSB, do PP, do PTB, e até do PMDB. Não faz sentido e não há sinais concretos de que isto possa se transformar em algo provável, mas são hipóteses dos aliados de Ciro para demonstrar como ele está longe de uma definição.
A carta-Ciro, portanto, ainda não está no jogo e, de fora, cria problemas para a candidata do PT. Por exemplo: um candidato precisa encontrar defeitos no outro até para ressaltar as qualidades que pensa possuir. E Ciro tem citado as deficiências não só de Dilma Rousseff mas, até mesmo, do maestro de todos do seu grupo, o presidente.
Está fora do jogo, também, a carta Aécio. Se o governador de Minas optar pela candidatura a vice-presidente, o cenário eleitoral ficará mais favorável à oposição, mas se limitar-se à campanha regional provocará alterações profundas nas expectativas do seu partido.
O PSDB gostaria muito que Aécio se definisse logo, mas o governador de Minas, agora, não tem a premência que via na definição do quadro sucessório no ano passado. Aécio viajou no Carnaval, saiu de cena, todos correram a contactá-lo, pedindo definições que ele exigia há meses de todos. Não há o menor sinal de pressa. Para declarar-se candidato a vice-presidente ou senador, Aécio pode esperar até junho.
O PT gostaria que Ciro Gomes optasse logo pela candidatura ao governo de São Paulo para "tirar esse pesadelo do caminho da Dilma", como definiu um aliado, e liberar os candidatos petistas que ficaram amarrados a esta definição. Mas ele tem tempo.
Sua candidatura ao governo de São Paulo foi meticulosamente armada pelos partidos aliados em conjunto com o presidente Lula, e é tensa a torcida pelo seu desenlace da candidatura presidencial.
De acordo com o raciocínio que determinou a estratégia até aqui executada, e nasceu da discussão do PSB e PCdo B, eleição no Brasil não se define com muita antecedência, a correlação de forças vai se formando ao longo dos meses.
A análise apontou-lhes que as forças que representam (chamadas progressistas, o que nem sempre são, ou de centro-esquerda) têm uma base social, empresarial, intelectual, mas seus adversários, (que chamam de conservadores), são também ainda muito fortes.
Quando Ciro apresentou sua candidatura a presidente, esses partidos, inclusive o seu, que gostaria desde o início ter acompanhado Lula e apoiado Dilma, resolveram incorporá-la como mais uma candidatura governista, sendo Dilma de um "campo", Ciro do outro. E promover mais à frente uma unidade. Procurou-se, então, uma alternativa, uma saída para Ciro se o tempo fosse armando a unidade em torno de Dilma e não dele, como gostaria. Surgiu a idéia de incentivar a transferência do domicílio eleitoral de Ciro para São Paulo, de forma que ele tivesse uma alternativa quando a aliança se firmasse em torno de Dilma. Foi o deputado Henrique Fontana, líder do PT à época, quem levou a proposta ao presidente Lula, que a encampou imediatamente.
Ciro tendo uma válvula de escape, acreditava-se à época, haveria a distensão das relações desses partidos da aliança com o PT, com a possibilidade, acreditavam, de tornarem-se preferenciais na aliança em detrimento do PMDB.
No meio do caminho encontrou-se a resistência do PT paulista, agora considerada superada. Ciro não tem mais receio de Marta Suplicy ou Aloizio Mercadante, mas não define seu rumo enquanto José Serra não anunciar o que vai fazer. Os partidos aliados a Lula estão tão no ar quanto estavam antes da reunião que fizeram semana passada em Brasília com o candidato e da pesquisa Datafolha que apontou estacionada a candidatura presidencial de Ciro.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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