DEU EM O GLOBO
Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva podem melhorar a agenda da sucessão presidencial se substituírem a retórica da marquetagem pela discussão dos fracassos de programas pontuais, relacionados com temas livres de polêmicas.
Não se trata de mostrar a vidraça quebrada para culpar o outro, mas de dizer o que se pode fazer para consertar a janela.
Nem tudo o que dá errado precisa continuar dando errado. O maior fracasso social-marqueteiro de Nosso Guia foi o programa Fome Zero.
Corrigido, transformou-se no seu maior êxito, o Bolsa Família.
Adiante vão dois exemplos de fracassos.
Em ambos, o governo saciou sua voracidade publicitária e, diante dos resultados bisonhos, ofereceu explicações do tipo temos um problema em Kabul porque invadimos o Afeganistão. Com isso, deu ao mau desempenho um verniz de fatalidade, mascarando a inépcia.
Programa Papel Passado: Em 2003, o governo federal lançou uma iniciativa destinada a regularizar a propriedade de imóveis no andar de baixo das cidades brasileiras. Pretendia beneficiar um milhão de famílias em três anos. Gastou R$ 50 milhões e, até maio passado, produziu 136 mil escrituras registradas em cartório.
Num cálculo grosseiro, os sem-papéis brasileiros estão em cima de um patrimônio de R$ 150 bilhões, mas por falta de papéis têm insegurança jurídica e dificuldades no acesso ao crédito bancário. São moradores de favelas ou mesmo de uma empulhação burocrática chamada loteamento clandestino, como se fosse possível existir um bairro na clandestinidade. Explicações para a ruína, o comissariado tem de sobra.
Enem/Vestibular: No ano passado o MEC anunciou um sistema capaz de transformar as provas do Enem em instrumento de seleção para a primeira fase do vestibular das universidades federais.
Os educatecas prometiam que a garotada teria duas, talvez três, oportunidades de fazer o exame durante o ano. Um sonho. Deu tudo errado. Roubaram as provas, o MEC pôs no ar listas malfeitas e até hoje há estudante reclamando. Quanto às três oportunidades, tchau. Neste ano haverá um só exame. Se alguém trabalhar direito, algum dia a prova será informatizada e a garotada fará vários exames por ano, como nos Estados Unidos.
Há ainda dois fracassos conhecidos, compar tilhados por Dilma Rousseff e José Serra, ruínas tucanas que prosperaram na gestão petista.
No projeto do Cartão SUS, o governo atolou R$ 400 milhões e produziu apenas irregularidades.
No cumprimento da lei que obriga os planos de saúde privados a ressarcir a Viúva quando os seus clientes são atendidos pelo SUS, ambos conseguiram quase nada.
Há poucas semanas, as repórteres Fabiane Leite e Mariana Mandelli mostraram que o Hospital São Caetano, tradicional instituição de São Caetano do Sul (SP), fechou serviços e despejou na rede pública dezenove clientes do plano Di Thiene que lá estavam internados.
Recebê-los no Hospital Brasil, que o administra, nem pensar. Sua controladora, a rede DOr, informou que, contratualmente, não tem esse compromisso.
Ao saber do despejo, o presidente da ANS, Maurício Ceschin, disse o seguinte: Eu nunca vi isso na minha vida. A patuleia, que sustenta a ANS, já viu, várias vezes.
Elio Gaspari é jornalista.
Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva podem melhorar a agenda da sucessão presidencial se substituírem a retórica da marquetagem pela discussão dos fracassos de programas pontuais, relacionados com temas livres de polêmicas.
Não se trata de mostrar a vidraça quebrada para culpar o outro, mas de dizer o que se pode fazer para consertar a janela.
Nem tudo o que dá errado precisa continuar dando errado. O maior fracasso social-marqueteiro de Nosso Guia foi o programa Fome Zero.
Corrigido, transformou-se no seu maior êxito, o Bolsa Família.
Adiante vão dois exemplos de fracassos.
Em ambos, o governo saciou sua voracidade publicitária e, diante dos resultados bisonhos, ofereceu explicações do tipo temos um problema em Kabul porque invadimos o Afeganistão. Com isso, deu ao mau desempenho um verniz de fatalidade, mascarando a inépcia.
Programa Papel Passado: Em 2003, o governo federal lançou uma iniciativa destinada a regularizar a propriedade de imóveis no andar de baixo das cidades brasileiras. Pretendia beneficiar um milhão de famílias em três anos. Gastou R$ 50 milhões e, até maio passado, produziu 136 mil escrituras registradas em cartório.
Num cálculo grosseiro, os sem-papéis brasileiros estão em cima de um patrimônio de R$ 150 bilhões, mas por falta de papéis têm insegurança jurídica e dificuldades no acesso ao crédito bancário. São moradores de favelas ou mesmo de uma empulhação burocrática chamada loteamento clandestino, como se fosse possível existir um bairro na clandestinidade. Explicações para a ruína, o comissariado tem de sobra.
Enem/Vestibular: No ano passado o MEC anunciou um sistema capaz de transformar as provas do Enem em instrumento de seleção para a primeira fase do vestibular das universidades federais.
Os educatecas prometiam que a garotada teria duas, talvez três, oportunidades de fazer o exame durante o ano. Um sonho. Deu tudo errado. Roubaram as provas, o MEC pôs no ar listas malfeitas e até hoje há estudante reclamando. Quanto às três oportunidades, tchau. Neste ano haverá um só exame. Se alguém trabalhar direito, algum dia a prova será informatizada e a garotada fará vários exames por ano, como nos Estados Unidos.
Há ainda dois fracassos conhecidos, compar tilhados por Dilma Rousseff e José Serra, ruínas tucanas que prosperaram na gestão petista.
No projeto do Cartão SUS, o governo atolou R$ 400 milhões e produziu apenas irregularidades.
No cumprimento da lei que obriga os planos de saúde privados a ressarcir a Viúva quando os seus clientes são atendidos pelo SUS, ambos conseguiram quase nada.
Há poucas semanas, as repórteres Fabiane Leite e Mariana Mandelli mostraram que o Hospital São Caetano, tradicional instituição de São Caetano do Sul (SP), fechou serviços e despejou na rede pública dezenove clientes do plano Di Thiene que lá estavam internados.
Recebê-los no Hospital Brasil, que o administra, nem pensar. Sua controladora, a rede DOr, informou que, contratualmente, não tem esse compromisso.
Ao saber do despejo, o presidente da ANS, Maurício Ceschin, disse o seguinte: Eu nunca vi isso na minha vida. A patuleia, que sustenta a ANS, já viu, várias vezes.
Elio Gaspari é jornalista.
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