O gigantesco terremoto de ontem no Japão e os tsunamis que devastaram uma área do país e ameaçam tantos outros países do Pacífico vão também afetar a economia mundial. O Japão estava começando a se recuperar, agora será de novo engolfada por mais incerteza. Há muito tempo o Japão não puxa a atividade do mundo, mas ainda é o terceiro maior PIB global.
O mundo está vivendo uma sucessão de megaeventos desde 2008. A economia americana levou dois anos para começar a mostrar sinais de recuperação, depois das crises imobiliária e bancária. A economia europeia ainda não se recuperou porque vive agora sob o risco de calote das dívidas públicas. Países produtores de petróleo, ou importantes para a logística do produto, estão sendo sacudidos por movimentos exigindo democracia. Em alguns casos, trazendo novas esperanças, como no Egito. Em outros, infelizmente, mais sofrimento para a população. A Líbia, pela reação do seu ditador, está virando um banho de sangue. A incerteza aumentou nos últimos dias quando na Arábia Saudita o governo reagiu com violência a uma manifestação. Tudo isso produz incertezas e choques na economia mundial.
Nas últimas horas, todos os olhos estiveram voltados para as assustadoras e grandiosas imagens da natureza em fúria. Um terremoto não é fenômeno climático, é geológico. Não é decorrente de emissão de gases de efeito estufa, como alguns dos desastres que temos visto no mundo. Mas as cenas de ontem mostravam refinarias em chamas, o risco rondando quatro centrais nucleares. O país mais preparado do mundo para desastres naturais viu sua população ser dolorosamente atingida, teve que fechar as centrais nucleares, decretar emergência nuclear. No fim do dia, saíram notícias de vazamento. As usinas foram construídas com segurança, mas para um terremoto de 7,5 graus. O de ontem foi além disso, o maior em um século e meio.
Os impactos na produção japonesa são difíceis de serem dimensionados nestas primeiras horas, mas são diretos. A maior siderúrgica do país também foi atingida por outro dos 80 grandes incêndios. A Sony fechou temporariamente seis fábricas. Inúmeras outras suspenderam produção, como a Nissan. A Volvo e a Nestlé foram atingidas. O centro dos eventos foi uma área de produção agrícola e de pesca. As bolsas caíram e os preços dos seguros subiram. O petróleo caiu, mas há risco de os derivados subirem porque o Japão é produtor de derivados. Há vários canais pelos quais essa tragédia humanitária atinge também a economia.
Na agricultura, o Japão é fraco. Falta terra, mas cada pedacinho é aproveitado em produção altamente subsidiada que o faz autosuficiente em arroz, mas importador de 60% dos alimentos que consome. Na pesca, eles são o maior produtor do mundo, fornecendo 15% da oferta global de peixes, com métodos de efeitos danosos para o equilíbrio natural.
O Japão foi o grande milagre econômico do pós-guerra, por apostar em alta qualificação do seu pessoal e produção de alta tecnologia. Cresceu 10% ao ano nos anos 1960; 5% ao ano, nos anos 1970; 4%, nos anos 1980. Daí, entrou numa grave crise provocada pelo estouro de uma bolha imobiliária, contra a qual não reagiu em tempo e nem da forma adequada. De lá para cá, o país tem tido períodos de recuperação logos abortados por alguma grande crise.
Foi assim em 2008. No último quadrimestre de 2010, o país estava começando a mostrar resultados positivos no crescimento. A tragédia das últimas horas deve de novo colocar a economia em compasso de espera. Em 19 de janeiro, o instituto Daiwa de pesquisas disse que uma contração adicional da economia japonesa seria improvável. No seu cenário principal, a economia continuaria com baixa atividade, mas escaparia da recessão, com crescimento de 1%: "Nós vemos cinco causas para otimismo em relação à economia japonesa: sinais do fim do declínio das exportações; melhora nas estimativas de produção; avanço no ajuste do estoque de capital; um piso para a renda domiciliar e para o emprego; aumento dos aluguéis e da ocupação dos imóveis comerciais." A análise coincidia com a de outro centro de estudos e consultoria, o JRI, Japan Research Institute.
Em fevereiro, diante dos últimos dados, a Daiwa reviu para cima suas expectativas de crescimento para o ano. Reafirmou que era improvável uma reversão desse quadro, e disse que sua preocupação era a instabilidade de alguns países desenvolvidos, o risco de bolhas nos emergentes, a especulação com as commodities. Os analistas do instituto olharam todos os fatores de risco, menos o imprevisto que estava abaixo das águas do seu mar. Terremotos são fenômenos complexos e difíceis de prever. E o tsunami que se seguiu veio rápido demais, antes que a população pudesse executar os planos sempre bem ensaiados de evacuação.
Como consequência do baixo crescimento, o Japão vive sob a síndrome das crises políticas. O primeiro-ministro, Naoto Kan, foi o quinto a assumir o cargo em quatro anos e estava sob ataque por acusação de corrupção quando, ontem, a oposição se uniu ao governo na luta contra o flagelo que se abateu sobre o país. Mas a crise que se seguirá a esses trágicos terremoto e tsunami obrigará o governo a gastar mais. E o país tem uma dívida de mais de 200% do PIB e déficit de 10%, indicadores péssimos que só são mantidos graças aos juros baixíssimos que tornam mais fácil pagar o serviço da dívida. A expectativa, com a melhora do quadro econômico, era de que o país fosse começar a fazer ajuste nas contas públicas. De novo, o Japão terá que lidar com a tragédia imprevista.
FONTE: O GLOBO
O mundo está vivendo uma sucessão de megaeventos desde 2008. A economia americana levou dois anos para começar a mostrar sinais de recuperação, depois das crises imobiliária e bancária. A economia europeia ainda não se recuperou porque vive agora sob o risco de calote das dívidas públicas. Países produtores de petróleo, ou importantes para a logística do produto, estão sendo sacudidos por movimentos exigindo democracia. Em alguns casos, trazendo novas esperanças, como no Egito. Em outros, infelizmente, mais sofrimento para a população. A Líbia, pela reação do seu ditador, está virando um banho de sangue. A incerteza aumentou nos últimos dias quando na Arábia Saudita o governo reagiu com violência a uma manifestação. Tudo isso produz incertezas e choques na economia mundial.
Nas últimas horas, todos os olhos estiveram voltados para as assustadoras e grandiosas imagens da natureza em fúria. Um terremoto não é fenômeno climático, é geológico. Não é decorrente de emissão de gases de efeito estufa, como alguns dos desastres que temos visto no mundo. Mas as cenas de ontem mostravam refinarias em chamas, o risco rondando quatro centrais nucleares. O país mais preparado do mundo para desastres naturais viu sua população ser dolorosamente atingida, teve que fechar as centrais nucleares, decretar emergência nuclear. No fim do dia, saíram notícias de vazamento. As usinas foram construídas com segurança, mas para um terremoto de 7,5 graus. O de ontem foi além disso, o maior em um século e meio.
Os impactos na produção japonesa são difíceis de serem dimensionados nestas primeiras horas, mas são diretos. A maior siderúrgica do país também foi atingida por outro dos 80 grandes incêndios. A Sony fechou temporariamente seis fábricas. Inúmeras outras suspenderam produção, como a Nissan. A Volvo e a Nestlé foram atingidas. O centro dos eventos foi uma área de produção agrícola e de pesca. As bolsas caíram e os preços dos seguros subiram. O petróleo caiu, mas há risco de os derivados subirem porque o Japão é produtor de derivados. Há vários canais pelos quais essa tragédia humanitária atinge também a economia.
Na agricultura, o Japão é fraco. Falta terra, mas cada pedacinho é aproveitado em produção altamente subsidiada que o faz autosuficiente em arroz, mas importador de 60% dos alimentos que consome. Na pesca, eles são o maior produtor do mundo, fornecendo 15% da oferta global de peixes, com métodos de efeitos danosos para o equilíbrio natural.
O Japão foi o grande milagre econômico do pós-guerra, por apostar em alta qualificação do seu pessoal e produção de alta tecnologia. Cresceu 10% ao ano nos anos 1960; 5% ao ano, nos anos 1970; 4%, nos anos 1980. Daí, entrou numa grave crise provocada pelo estouro de uma bolha imobiliária, contra a qual não reagiu em tempo e nem da forma adequada. De lá para cá, o país tem tido períodos de recuperação logos abortados por alguma grande crise.
Foi assim em 2008. No último quadrimestre de 2010, o país estava começando a mostrar resultados positivos no crescimento. A tragédia das últimas horas deve de novo colocar a economia em compasso de espera. Em 19 de janeiro, o instituto Daiwa de pesquisas disse que uma contração adicional da economia japonesa seria improvável. No seu cenário principal, a economia continuaria com baixa atividade, mas escaparia da recessão, com crescimento de 1%: "Nós vemos cinco causas para otimismo em relação à economia japonesa: sinais do fim do declínio das exportações; melhora nas estimativas de produção; avanço no ajuste do estoque de capital; um piso para a renda domiciliar e para o emprego; aumento dos aluguéis e da ocupação dos imóveis comerciais." A análise coincidia com a de outro centro de estudos e consultoria, o JRI, Japan Research Institute.
Em fevereiro, diante dos últimos dados, a Daiwa reviu para cima suas expectativas de crescimento para o ano. Reafirmou que era improvável uma reversão desse quadro, e disse que sua preocupação era a instabilidade de alguns países desenvolvidos, o risco de bolhas nos emergentes, a especulação com as commodities. Os analistas do instituto olharam todos os fatores de risco, menos o imprevisto que estava abaixo das águas do seu mar. Terremotos são fenômenos complexos e difíceis de prever. E o tsunami que se seguiu veio rápido demais, antes que a população pudesse executar os planos sempre bem ensaiados de evacuação.
Como consequência do baixo crescimento, o Japão vive sob a síndrome das crises políticas. O primeiro-ministro, Naoto Kan, foi o quinto a assumir o cargo em quatro anos e estava sob ataque por acusação de corrupção quando, ontem, a oposição se uniu ao governo na luta contra o flagelo que se abateu sobre o país. Mas a crise que se seguirá a esses trágicos terremoto e tsunami obrigará o governo a gastar mais. E o país tem uma dívida de mais de 200% do PIB e déficit de 10%, indicadores péssimos que só são mantidos graças aos juros baixíssimos que tornam mais fácil pagar o serviço da dívida. A expectativa, com a melhora do quadro econômico, era de que o país fosse começar a fazer ajuste nas contas públicas. De novo, o Japão terá que lidar com a tragédia imprevista.
FONTE: O GLOBO
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