E apontam falta de planejamento de longo prazo
Isabel Braga, Júnia Gama
BRASÍLIA - Críticos e ex-petistas históricos, que ajudaram a fundar a legenda e a deixaram ressentidos com o pragmatismo do poder, concordam em relação aos avanços na distribuição de renda da população durante os de dez anos do PT no Planalto. Os dois grupos, porém, destacam que os desvios éticos, cujo episódio mais emblemático foi o mensalão, comprometem o prestígio do partido após um longo período no poder. A presidente Dilma Rousseff, dizem, não tem nem mais um dia a perder e terá de provar sua capacidade de gestão, para retomar as rédeas da economia e impedir que o prejuízo ético inviabilize o plano, traçado em 2002, de ficar 20 anos no Planalto.
Hélio Bicudo, petista histórico que deixou o partido em 2005, vê o PT como uma legenda que se equiparou aos demais na busca pelo poder e se afastou de seus propósitos iniciais. E não esconde a grande decepção: o ex-presidente Lula e a esperança que murchou.
- A maneira pela qual o partido se comportou quando Lula foi eleito foi uma grande decepção. Ficou claro que o PT buscava a eleição somente para distribuir benesses a um grupelho. Se o PT continuar nas mãos dessas lideranças que hoje o dominam, vai se afundar cada vez mais nessa linha de buscar vantagens pessoais. O Lula é a principal figura que puxa essa posição egoística do PT.
Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, foi ministro da Ciência e Tecnologia nos primeiros anos do governo Lula. E engrossa o coro de seu partido, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de que o PT terá de enfrentar o desafio do crescimento econômico para se manter no poder nos próximos anos.
- A retomada do crescimento da economia, mantendo a distribuição de renda, torna todos os demais desafios secundários. Não avançaremos na Educação, não resolveremos o problema de infraestrutura se não voltarmos a crescer. Devemos pensar em 5% de crescimento, no mínimo.
Outro fundador do PT, o carioca Vladimir Palmeira, que deixou as fileiras da militância petista em junho de 2011 por não aceitar a volta de Delúbio Soares, também destaca os avanços na distribuição de renda como a grande marca positiva dos dez anos do PT no poder. Mas diz que o partido está sem perspectiva, já que age mais a reboque dos fatos do que a partir de grandes projetos.
- A curto prazo, Lula acertou, mas o Brasil não tem rumo para os próximos 30 anos. Ele tinha a ideia central de acabar com a miséria, aplicou a ideia, mas faltou pensar no longo prazo. Dilma não tem projeto nem a médio prazo. Não adianta e não pode mais repetir o modelo Lula, que se esgotou, é insuficiente. Como Dilma não tem projeto de médio prazo, (Guido) Mantega (ministro da Fazenda) chuta para todos os lados com uma série de medidas - diz Vladimir Palmeira.
Um dos mais ácidos críticos do governo, apesar de ser de um partido da base, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) reconhece os avanços da era Lula, mas reforça as críticas sobre o afastamento do PT de suas bandeiras históricas:
- Dilma, para se firmar como líder, terá que vencer 2013. Este ano será crucial, cruel para a presidente. A economia tem dado sinais de fadiga, PIB mínimo, a indústria encolhendo no país. E o PT tem que ter reformulação, se reunir e ver onde errou. Já tem várias vozes se levantando, dizendo que é preciso respeitar a decisão do Judiciário, tem que acatar, mudar práticas. Ver que o partido errou igual ou mais do que os demais.
Fonte: O Globo
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