Costura para levar Aécio à presidência da sigla prevê postos de comando nas mãos do mineiro e do governador Geraldo Alckmin
Julia Duailibi
Na construção da candidatura do presidenciável Aécio Neves, o comando do PSDB emplacará o senador mineiro como novo presidente do partido ao mesmo tempo em que deve minimizar o espaço do ex-governador José Serra na nova direção partidária e aumentar a participação do governador Geraldo Alckmin (SP). Em maio, o PSDB elege a nova Executiva.Hoje, a maior parte da direção está fechada com a candidatura de Aécio à Presidência da República, projeto que tem o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do presidente do partido, Sérgio Guerra – em dezembro, os dois lançaram o senador como pré-candidato ao Palácio do Planalto. O espaço na Executiva é visto como fundamental para o grupo serrista, que voltou a colocar na pauta a discussão sobre prévias para escolher o presidenciável.
“Neste ano o PSDB tem duas tarefas essenciais pela frente:renovar a sua Executiva Nacional, usando os seus melhores quadros e garantindo que todos se sintam representados, e organizar sua proposta política”, disse o ex-governador Alberto Goldman em seu blog na semana passada, quando aliados de Serra disseram que ele deixaria o partido por estar isolado. Parte da direção viu na manifestação do ex-governador uma tentativa de valorização diante das negociações sobre a nova Executiva. Os tucanos defensores do projeto Aécio avaliam que o comando do maior partido de oposição é um passo imprescindível no caminho ao Planalto. A princípio, Aécio tentou resistir à indicação por avaliar que a função causaria desgaste, inclusive com potenciais partidos aliados. Articulou até plano alternativo que envolvia outros nomes. Mas Guerra e FHC já haviam abraçado a tese. No final de 2012, em jantar com integrantes da bancada de deputados, o mineiro ouviu o pedido para que assumisse o comando o partido, como forma de mostrar real comprometimento com o projeto – volta e meia a disposição dele de se candidatar é questionada por tucanos.
Neste mês, Aécio se encontrará com Alckmin, FHC e Serra para discutir a nova Executiva. Além da presidência do PSDB, estarão em jogo outros três cargos: a vice-presidência, a secretaria-geral e a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), centro de pesquisas e estudos do partido, com orçamento próprio. Na costura em estudo, um parlamentar paulista ligado a Alckmin ficaria com a secretaria-geral, principal cargo no PSDB, depois da presidência. Hoje o posto é de um aliado do mineiro, o deputado Rodrigo de Castro (MG). Um aliado de Serra, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), com a vice-presidência, atualmente com outro serrista, o ex-governador Alberto Goldman. Outro desenho contempla Aloysio na liderança do partido no Senado. Mas, nos dois casos, há certa resistência do grupo de Aécio, que teme alimentar a ala oposicionista à sua candidatura. Para eles, a saída seria Aloysio numa comissão forte no Senado – e os serristas sema vice. Na tentativa de composição, entra ainda a presidência do ITV, hoje com ex-senador Tasso Jereissati (CE), outro ligado a Aécio. Em 2011, na esteira da derrota da eleição presidencial, o grupo de Serra pleiteou o espaço, mas não conseguiu.
Atualmente a discussão toma os mesmos contornos. “Acho que Serra deveria ir para o ITV”, diz o deputado estadual e líder sindical Antonio Ramalho. “Ele criaria uma presidência paralela no ITV e enfraqueceria a oficial”, rebateu um integrante da direção.
Prévia. A discussão sobre a indicação dos nomes já cria desconforto. “Essa é uma estratégia que cria constrangimento interno, como já se revelou nas movimentações nos últimos dias”, disse o senador Álvaro Dias (PR) sobre a informação de que Serra deixaria o PSDB.“O partido tem cometido equívocos que comprometem seu desempenho eleitoral e o projeto de nação em 2014, à medida que se fecha e impõe decisões de cima para baixo antecipando etapas”, completou Dias, defensor das prévias no PSDB.
A interlocutores Serra negou que sairá do PSDB. Disse que o tema era “falta de assunto”. O tucano teria dúvidas sobre trocar o PSDB por uma legenda menor, com menos tempo de TV no horário eleitoral e menos recursos. Mais dúvidas ainda sobre criar um partido. “Mantenho conversas com Serra que se aprofundaram após a campanha presidencial. Mas não estamos à procura de presidenciável”, disse Roberto Freire, presidente do PPS. Para aliados do ex-governador, não está descartada a disputa de prévia contra Aécio para definir o candidato à Presidência. O exemplo usado é 2012, quando o tucano aceitou se inscrever na corrida interna para definir o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Mas,alegam, isso só seria possível se houvesse equilíbrio na Executiva. Em 2009, Aécio ensaiou pedir prévia para a escolha do presidenciável tucano, mas desistiu da disputa em favor de Serra.
Colaborou Bruno Boghossian
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário