“Considerando o peso extraordinário dos problemas, seria de esperar que os políticos – sem senões e poréns – finalmente colocassem as cartas europeias na mesa com o intuito de esclarecer veementemente a população sobre a relação entre os custos existentes em curto prazo e os verdadeiros benefícios, ou seja, sobre o significado histórico do projeto europeu. Eles teriam de superar seu medo do estado de ânimo medido pelas pesquisas de opinião, confiando no poder de convencimento dos bons argumentos. Diante desse passo, todos os governos participantes recuam, assim como, por enquanto, recuam também todos os partidos políticos. A política, no limiar que vai da unificação econômica para a unificação política da Europa, parece segurar o fôlego e evitar um enfrentamento dos problemas. Por que essa paralisia?
A conhecida resposta “no demos” se impôs a partir de uma perspectiva presa ao século XIX: não existiria um povo europeu; nesse sentido, uma unificação que merecesse esse nome seria uma mera construção sobre a areia. Eu gostaria de contrapor a essa interpretação uma outra que considero mais adequada: a fragmentação política permanente no mundo e na Europa contradiz o crescimento sistêmico unificado de uma sociedade mundial multicultural e bloqueia os progressos na civilização jurídico-constitucional das relações de poder estatais e sociais[1}".
{1}Elias
(em O processo civlizador)
desenvolve o conceito de civilização, sobretudo tendo em vista o crescimento
das capacidades sociopsicológicas de autocontrole no processo de modernização.
[O conceito de “civilização” empregado por Habermas se refere também ao
processo de formação das capacidades de ação política dos cidadãos sobre a
configuração e o exercício democráticos do poder político – N. T.].
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