Ex diretora do Instituto de Saúde Pública do Chile diz que substância achada em porão era do Instituto Butantan, de SP
SANTIAGO -O Brasil foi envolvido, no mês passado, em uma denúncia de que o regime de Augusto Pinochet usou agentes químicos para eliminar opositores. Uma ex-diretora do Instituto de Saúde Pública (ISP) do Chile, Ingrid Heitmann, disse a uma agência de notícias alemã ter encontrado, em um porão ao lado do Estádio Nacional, frascos com toxinas, botulínicas provenientes do Instituto Butantan, de São Paulo.
A substância altamente tóxica teria sido fornecida pelo Brasil a Pinochet nos anos 8o, disse Ingrid, que chefiou o ISP no governo de Michelle Bachelet (2006-2010). "Eram caixas cheias de ampolas com toxina botulínica, suficientes para matar metade de Santiago. Se poderia matar muita gente, não sei quantos", disse.
Ingrid teria incinerado o material químico em 2008, sem avisar a Justiça nem seus superiores no governo Bachelet. As ampolas teriam sido encontradas por acaso, depois de ela ter ordenado uma limpeza nas geladeiras dos porões do ISP. Suspeita-se que alguns opositores chilenos tenham sido assassinados com agentes químicos pela temida Birección de Inteligência Nacional (Dina), a agência de espiqnagem de Pinochét. Entre as vítimas, estaria o ex-presidente Eduardo Frei.
Ao Estado, o ex-diretor do Instituto Butantan Isaías Raw disse que é "impossível" que o Brasil tenha repassado o agente químico de seu laboratório a Pinochet. "Nunca fornecemos nada. Nós fazíamos toxina botulínica apenas para uso interno, para fazer soro antibotulínico." Ainda de acordo com o professor, as ampolas não poderiam ter sido roubadas do Butantan sem que os pesquisadores percebessem.
"(O agente químico) ficava em um lugar sem nome na porta e com um portão de ferro pesado. Essa acusação foi uma fantasia inventada por alguém. Seria, por exemplo, muito mais fácil arrumar cianureto e jogar na comida da pessoa", afirmou Raw.
Ditadura fez 40.280 vítimas
Os 17 anos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) deixaram 40.280 vítimas oficiais entre executados, desaparecidos e torturados. Pelo menos 3.225 pessoas foram mortas ou desapareceram durante o regime militar. Além delas, 37.055 foram vítimas de torturas e prisão política. O primeiro relatório da Comissão Nacional da Verdade e Reconciliação, conhecido como Relatório Retting (pelo jurista Raúl Retting), denunciou os primeiros casos em 1991, um ano depois do fim da ditadura de Pinochet. Em 2003, foi criada a Comissão Valech (presidida pelo bispo Sérgio Valech), que complementou o trabalho de Retting.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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