Plano é evitar atos de desagravo a presos hoje, na abertura de encontro em Brasília, com Dilma e Lula; evento específico, amanhã, tratará do caso
Vera Rosa
BRASÍLIA - Vinte e sete dias após a prisão de seus antigos dirigentes, o PT abrirá hoje o 5.º Congresso Nacional do partido, em Brasília, disposto a virar a página do mensalão, mas enfrentando o protesto dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
Nem mesmo o ato de desagravo previsto para amanhã pela cúpula do PT serviu para aplacar a revolta dos petistas presos e de seus amigos, que esperavam um gesto mais enfático de solidariedade por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff.
Tudo foi planejado para não constranger Dilma, descolando a manifestação de desagravo da abertura do encontro. A presidente quer manter o governo longe do escândalo, para não contaminar a campanha à reeleição, e proibiu ministros de fazerem a defesa pública dos réus do mensalão. Na semana passada, ela ficou irritada ao saber que pelo menos dois ministros visitaram o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Dilma e Lula participarão do primeiro dia do Congresso, na noite de hoje, mas não do ato em solidariedade aos "injustiçados" pelo Supremo - termo usado na programação do evento.
O desagravo foi marcado para amanhã cedo justamente para que ninguém do governo possa ir, já que se trata de horário de expediente. A defesa pública dos petistas presos será feita por seus parentes.
'Envergonhado'. Genoino disse a amigos que não precisa de um "ato envergonhado" do partido. "Não aguento mais esse sofrimento", afirmou ele, na semana passada, antes de renunciar ao mandato de deputado para fugir da cassação no plenário da Câmara. Condenado a regime semiaberto, Genoino foi transferido temporariamente do Complexo da Papuda para prisão domiciliar, por causa de problemas cardíacos. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi um dos amigos que o visitaram.
Contrariado com o "modelo" de desagravo organizado por seu partido, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), outro condenado do mensalão, subiu ontem à tribuna para se defender. O deputado acusou o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, de protagonizar uma "farsa teatral" e de usar "seletivamente" as informações da ação penal para incriminar o PT.
"Essa é uma luta que não vai terminar agora, com minha prisão, do Zé (Dirceu) e do Genoino. Tem ingênuo do PT que diz que é bom acabar rápido com isso, porque a eleição está chegando. Ainda vou ficar muito tempo aqui com os companheiros", disse João Paulo, condenado a 9 anos e 4 meses de prisão. Pessoas próximas ao petista acreditam que ele poderá ir para a cadeia antes do Natal. "Eu não quero ficar sozinho lá (na prisão). Quero que vocês mandem cartas para mim, porque eu vou ter muito tempo para responder", emendou ele, emocionado.
Apesar do acerto para deixar o mensalão fora da festa de aclamação de Dilma, o receio do Planalto é de que a plateia grite os nomes de Dirceu e Genoino e faça pressão por um pronunciamento mais veemente por parte dela ainda hoje. Os defensores desse gesto estão abrigados principalmente em correntes da chamada "esquerda" petista.
Pelo script combinado, Dilma e Lula farão discursos otimistas para levantar o moral da tropa petista às vésperas da campanha, com ataques à oposição, principalmente ao PSDB. Ninguém descarta, porém, a possibilidade de Lula abordar o tema, com críticas à imprensa e ao que ele chama de "politização" do julgamento. Reeleito com 70% dos votos dos filiados, o presidente do PT, Rui Falcão, tomará posse hoje, no Congresso do partido.
Colaboraram Daiene Cardoso e Ricardo Della Coleta
Fonte: O Estado de S. Paulo
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