As fortes reações de solidariedade e “desagravo” às lideranças petistas condenadas no julgamento do mensalão, por parte da cúpula e das bancadas federais do partido – desde as sucessivas e quase diárias visitas de numerosas delegações até a tentativa de bloqueio à abertura do processo de cassação do deputado Genoino (rechaçada pelo presidente da Câmara, o peemedebista Henrique Alves, com a rápida sequência da renúncia dele ao mandato), essas reações chegaram ao final de novembro apresentando resultados muito negativos.
No plano institucional, com a decisão da Justiça do DF de submeter os mensaleiros às mesmas restrições aplicadas aos demais presidiários (que começou a ser posta em prática com a limitação das visitas). No plano do Legislativo, com atitude semelhante à de Genoino, já adotada e a sê-lo mais à frente pelos outros parlamentares condenados, do recurso à renúncia dos mandatos como alternativa à cassação em sessões da Câmara com voto aberto. E na opinião pública tais reações terminaram suscitando amplo sentimento de re-pulsa ao desfrute e à defesa de regalias e privilégios pelos mensaleiros presos.
Sentimento que se reforçou com a suspeita oferta de emprego a José Dirceu, com alto salário, num hotel de Brasília ligado a um grupo empresarial com sede no Panamá, dirigido por um “laranja” (um modesto funcionário) e representado aqui por pessoas que têm vínculos políticos com Dirceu e dependem de medidas de respaldo do governo federal. O referido “emprego” (formalizado por contrato de trabalho exibido para a imprensa por Dirceu) foi logo posto em xeque por ministros do STF (dos quais depende a autorização para atividades externas de sentenciados a penas de prisão semiaberta). Sendo, ao final, descartado pela desistência do beneficiário, para evitar mais “linchamento” dos seus amigos pela mídia, em suas próprias palavras.
Mesmo com esses resultados frustrantes da ofensiva deflagrada para conversão dos seus mensaleiros em mártires, de políticos condenados por corrupção em presos políticos vítimas de violência e arbítrio do STF, mesmo assim o congresso nacional do PT programado para esta semana (a ser aberto em solenidade com a presença da presidente Dilma e de Lula) terá como primeiro item uma homenagem a José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha.
O que reflete a persistência de grande influência deles, especialmente de Dirceu, na direção do partido. Com a homenagem, a cúpula espera deixar para trás as reações mais agressivas em favor dos mensaleiros – concordando com a avaliação do comando da campanha reeleitoral da presidente sobre a inconveniência política delas. E substituí-las pela atribuição de enfática prioridade a um tema que une as diversas tendências petistas: um ataque concentrado à mídia “burguesa e reacionária”. Por meio de forte empenho no Senado e na Câmara para debate e encaminhamento em 2014 de projeto para a “democratização dos meios de comunicação”, bandeira com a qual o PT e o satélite PC do B disfarçam o objetivo do controle da mídia. Bem como de “mobilização popular” em torno do projeto, nos palanques eleitorais do próximo ano.
E há mais uma trincheira desse combate – o Palácio do Planalto – que está sendo ativada por setores do PT nele influentes, segundo artigo do jornalista Elio Gaspari, no Globo e no Estadão, de domingo último. Do qual são transcritos a seguir alguns trechos. “Há sólidos indícios de que o comissariado petista arma iniciativas para criar uma base de apoio no setor de comunicações. Em 12 anos de poder, o projeto mais lógico rolou no BNDES em 2002. Como havia grandes empresas em dificuldades financeiras, concebeu-se algo, como um ProPress.
O comissário José Dirceu chegou a anunciar que “esse era um assunto de Estado”. Deu em nada porque, depois de examinar os contratos, alguns dos interessados recusaram a oferta”. “O governo já criou uma rede de televisão, distribuiu os habituais fundos de radiodifusão e alguns comissários meteram-se em jornais. Como faltou combinar com os russos, ficaram sem audiência e com poucos leitores”. “Os paladinos dos planos que darão nova vida ao governo na imprensa podem até parecer bons amigos” (da presidente Dilma). “O problema é o que há em volta deles”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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