João Paulo chama julgamento de farsa, ataca Barbosa e afirma que é preso político
-Brasília- Na sua primeira manifestação pública desde a condenação no mensalão, o deputado petista João Paulo Cunha (PT-SP) chamou o julgamento de farsa e comparou sua provável prisão com a de Nelson Mandela. O petista lançou ontem a revista "A verdade, nada mais que a verdade sobre a ação penal 470" com sua versão dos fatos e fez um discurso no plenário da Câmara. João Paulo disse que não renunciará ao mandato, como fizeram José Ge-noino e Valdemar Costa Neto.
— Se Mandela ficou preso 27 anos, posso suportar um tempo. Não estou me comparando a Mandela. Disse a uma jornalista para me mandar cartas quando eu estiver preso. Terei muito tempo para escrever — disse o petista.
Na tribuna, o deputado afirmou ser um preso político, argumento utilizado por outros condenados, declarou-se inocente e afirmou que gostaria de rebater as "barbaridades" das acusações contra ele.
— Por ironia do destino, estou aqui respondendo a acusações políticas. Infelizmente, fui atropelado por aquilo que acreditava. Já vai longe o ano de 1995, quando proferi meu primeiro discurso sobre a reforma política — disse.
Ele criticou o presidente do STF, Joaquim Barbosa. Disse que Barbosa ignorou diversos argumentos da defesa:
— O ministro Joaquim Barbosa tem que dizer o que desviei. Peguei R$ 50 mil (no Banco Rural) para pagar campanha éleito-ral. Fiz na boa intenção, achando que o PT estava pagando. Mas, no roteiro feito pelo ministro Joaquim, apareço como um bandoleiro, um mau caráter. Um juiz, desde sua origem, precisa guardar o recato. Geralmente é uma pessoa cândida e que não disputa a opinião pública.
A publicação que o petista lançou tem 58 páginas, é colorida e de boa qualidade de impressão e com muitas fotos. João Paulo disse que bancou a publicação do próprio bolso e se irritou com jornalistas qué perguntavam se havia verba da Câmara ou do PT.
— Sou (chamado de) mensaleiro há muitos anos. Passo por esse infortúnio desde 2005. Essa é uma prestação de contas aos meus 256 mil eleitores, aos senhores deputados e aos filiados do PT — disse o deputado em outro discurso que fez, este no lançamento na revista, no hall da taquigrafia da Casa.
O petista estava acompanhado, no pequeno palco improvisado, de 15 deputados do PT. Ele afirmou que, mesmo preso, não vai se manter calado e que pretende se defender sempre:
— Por onde passar, e puder falar, vou falar. É uma marca indelével (a condenação) para o resto da vida.
O deputado afirmou ser este um momento de dor, mas que, nesse sentimento, ele busca a profundidade que precisa para atravessar esse período:
— Esse processo é cruel, é duro, mas há de ser enfrentado. Fui condenado contra as provas que eu produzi por algumas aberrações, que qualquer rábula facilmente entenderá ao folhear essa revista. É uma farsa.
João Paulo foi mais um petista a atacar os meios de comunicação. Afirmou que parte do dinheiro foi pago à agência SMP&B, de Marcos Valério, como comissão por rádios, TVs e jornais. E citou vários. Negou ter levado agência de publicidade para dentro da Câmara e que já era prática na Casa contratação desse tipo de serviço:
— Essa é uma luta que não vai terminar agora, com minha prisão, a do Zé (Dirceu) e do Genoino. Tem ingênuo do PT que diz que é bom acabar rápido, pois a eleição está chegando. Ainda vou ficar muito tempo aqui com os companheiros.
Mulher de João Paulo sacou R$ 50 mil no Rural
João Paulo Cunha foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro. E também foi multado em R$360 mil. Ele foi acusado pelo Ministério Público de contratar de forma irregular a agência SMP&B, de Marcos Valério, quando presidiu a Câmara, entre 2003 e 2004.0 relator do processo, Joaquim Barbosa, afirmou que esse contrato de publicidade em nada beneficiou a Câmara, e que a comissão de licitação foi escolhida num ato de ofício do petista. Para Barbosa, o deputado foi o executor do contrato. O negócio chegou a R$ 17,7 milhões.
O deputado também foi condenado por ter recebido R$ 50 mi! de Valério, dinheiro sacado pela mulherde João Paulo na agência do Banco Rural em Brasília. Pelo crime de corrupção passiva, o petista foi condenado a três anos, mesma pena para lavagem. Pelo peculato, ele pegou 3 anos e 4 meses. Ainda há recursos pendentes. Se negados, ele ficará em regime fechado.
Fonte: O Globo
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