Cristiane Agostine - Valor Econômico
SÃO PAULO - Um dia depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixar a nota de crédito (rating) do Brasil, o pré-candidato à Presidência e governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse que essa decisão já era esperada e culpou o governo federal. No entanto, Campos afirmou ontem que há um pessimismo exagerado em relação ao desempenho da economia e disse que o Brasil tem fundamentos "muito melhores" do que outros países.
"Era algo que vinha sendo anunciado. A qualquer momento podia acontecer", disse, depois de participar de um evento em São Paulo. "O governo fez uma série de movimentos tentando postergar [o rebaixamento] para depois do processo eleitoral e não conseguiu".
A Standard & Poor's rebaixou a nota de crédito do Brasil, que reflete a confiança de investimento, de "BBB" para "BBB- " e alterou a perspectiva de "negativa" para "estável". O patamar é o último nível dentro do grau de investimento.
Campos minimizou a decisão e disse que o país, que já viveu momentos de muito otimismo, enfrenta "um grau de pessimismo que não podemos efetivamente concordar".
"Temos que ter objetividade para perceber que há problemas, que não podem ser negligenciados nem escondidos ou eles vão aumentar, mas existiram outros momentos no Brasil em que tivemos mais problemas do que temos hoje", afirmou. "Existem outras nações que têm mais problemas do que o Brasil, mas existe no país uma crise de expectativa e de confiança. E essa crise é e pode ser traduzida em uma crise política, de sustentação ao atual governo", declarou ao participar de debate promovido por Americas Society/ Council of the Americas.
Pouco antes da palestra de Campos, representantes de instituições financeiras criticaram pontos da política econômica do governo Dilma Rousseff, mas afirmaram que ainda sabem pouco sobre as propostas nessa área dos pré-candidatos Eduardo Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Dalton Gardimam, economista-chefe do Banco Bradesco BBI SA disse "conhecer muito pouco do conteúdo programático" dos opositores de Dilma. Diretor da Standard & Poors, Sebastian Briozzo afirmou que "faz tempo que deixou de ser importante a cor da bandeira" do partido do candidato. "O importante é a agenda e a equipe que vai trabalhar com essa agenda", disse. Marcelo Kfoury, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Citigroup Brasil, afirmou que o pessimismo dos investidores locais é "mais exagerado" em relação ao dos estrangeiros e afirmou que o presidente eleito neste ano poderá diminuir o clima de incerteza e retomar o crescimento do país em 2016 se fizer "reformas mais ortodoxas" em 2015.
Campos não se aprofundou sobre o que seria a política econômica de seu eventual governo, mas defendeu a autonomia do Banco Central e disse que atrairá investidores com "regras claras", que deem "confiança".
Sem citar o governo nem o PT, o Campos acusou "terrorismo eleitoral" e desmentiu boato de que acabará com o Bolsa Família, se eleito. "Não podemos permitir que o terrorismo eleitoral diga que só uma força política manterá o Bolsa Família no Brasil. Isso é mentira, é um terrorismo, é a tentativa de o medo vencer a esperança", afirmou. "O Brasil nos últimos anos tem assistido a esperança, todas as vezes, derrotar o medo daqueles que usam esse tipo de ferramenta, tentando constranger os segmentos mais pobres do país".
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