Estar em São Paulo entre investidores internacionais no dia em que a agência Standar’s and Poors rebaixou a nota do Brasil é uma experiência interessante. O sentimento generalizado é que não aconteceu uma tragédia, mas há uma genuína ansiedade sobre como o governo brasileiro se comportará diante da adversidade que o rebaixamento representa.
Mesmo que o mercado financeiro se excite com especulações de que Dilma estaria perdendo terreno nas pesquisas eleitorais, como aconteceu na semana passada, na verdade os investidores pragmaticamente tratam a reeleição da presidente como o resultado mais provável do pleito de outubro, o que os faz tentar entender o que será um segundo mandato em dilmês.
Ou até mesmo se ela terá capacidade para dar uma guinada na sua política econômica ainda neste ano eleitoral, para reduzir os danos que vem sofrendo. As respostas são desencontradas, pois ninguém sabe ao certo como Dilma reagirá diante da realidade que tentou evitar a todo custo.
A ida da presidente ao Fórum Mundial Econômico em Davos em janeiro, para convencer os investidores internacionais de seu comprometimento com o equilíbrio fiscal, teria sido um movimento extremo que muito custou à presidente, e o resultado não veio. O governo considerava que o rebaixamento era inevitável, mas trabalhou duro para adiá-lo para depois das eleições.
Nesse sentido, foi pego de surpresa diante da rapidez da decisão da S&P. Ao que tudo indica, a infeliz coincidência para o governo de ter que anunciar medidas heterodoxas na solução da crise das elétricas, espetando uma dívida gigantesca de maneira indireta no Tesouro Nacional com os empréstimos da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no mesmo dia em que a comitiva da agência avaliadora de riscos visitava os principais gabinetes em Brasília foi uma prova de que mesmo que queira o governo já não tem condições de resolver seus imbróglios fiscais de maneira tranqüila.
O que os investidores tentam entender é qual o caminho que o governo brasileiro tomará daqui para frente para atravessar esse ano eleitoral sem deteriorar ainda mais a economia e tentar chegar a 2015, o ano do inevitável grande reajuste que terá que ser feito por qualquer um que se eleja em outubro.
As primeiras notícias confirmam o temor de que a reação da presidente seja de irritação, e não de reformulação de sua política econômica. Já a do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, no entanto, pode ser vista como positiva, prometendo “austeridade na condução da política macroeconômica”, diferente da primeira reação da nota oficial do Ministério da Fazenda, que procurou desqualificar a análise da S&P, certamente sob orientação de uma irritada Dilma.
Um bom sinal de reversão de atitude seria a permissão para que a Petrobrás dê um aumento para a gasolina ainda nesse ano eleitoral. Uma decisão difícil para qualquer governo que disputa uma eleição, muito mais para esse que congela os preços administrados para segurar a inflação, um dos motivos, aliás, para o rebaixamento da nota brasileira.
Ao mesmo tempo, há analistas que sublinham que o governo brasileiro, sem anunciar mudanças, está alterando seu comportamento, seja na questão dos juros, cuja queda teve que ser revertida, seja na questão das privatizações para obras de infra-estrutura.
Nesse sentido, esses analistas acreditam que a presidente Dilma fará alterações na sua linha econômica, se não nesse ano eleitoral, certamente no primeiro ano de sua reeleição, se ela realmente se concretizar como indicam hoje as pesquisas eleitorais.
Há quem tema, no entanto, que a teimosia da presidente, um dado de sua constituição psicológica que é levado cada vez mais em conta nas análises prospectivas, impeça uma mudança de rumo e a leve a tentar aprofundar seu intervencionismo num eventual segundo mandato, ao qual chegará sem a lealdade política de uma base aliada que a apóia por pragmatismo fisiológico.
Fonte: O Globo
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