A PF quer explicações de Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, sobre os repasses de lobistas acusados de “comprar” leis.
Filho de Lula terá de explicar à PF dinheiro que recebeu de lobista
• Policiais investigam pagamento de propina a parlamentares para aprovar MP
Jailton de Carvalho e Eduardo Bresciani - O Globo
BRASÍLIA - A PF quer explicações de Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, sobre os repasses de lobistas acusados de “comprar” leis. -BRASÍLIA- A Polícia Federal vai intimar o empresário Luis Claudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Lula, para prestar depoimento no inquérito sobre a compra de medidas provisórias favoráveis a montadoras de veículos, entre elas a Mitsubishi Motors e a Caoa, que representa a Hyundai no Brasil. Luis Claudio será chamado para se explicar sobre um pagamento de R$ 1,5 milhão que uma de suas empresas, a LFT Marketing Esportivo, recebeu da empresa de lobby Marcondes & Mautoni, no ano passado. A PF também vai tentar descobrir quais políticos teriam contribuído com o esquema, uma vez que foram descobertos e-mails entre lobistas relatando a necessidade de fazer “acertos” com parlamentares.
A PF ainda não definiu a data do depoimento de Luis Claudio, que deve acontecer após a análise do material apreendido na mais recente etapa da Operação Zelotes, investigação que teve início com a apuração de fraudes no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), do Ministério da Fazenda, e agora avança sobre a suposta compra de medidas provisórias relacionadas à renúncia fiscal para montadoras.
Procurador acha negócio “muito suspeito”
Segundo a investigação, a Marcondes & Mautoni é uma empresa de fachada, suspeita de intermediar negócios ilegais entre empresas privadas e o setor público. Em pedido que deu origens às buscas na LFT, o procurador José Alfredo de Paula Silva considerou estranho uma empresa de marketing esportivo ter recebido dinheiro de lobistas. Também foram apreendidos documentos da Touchdown Promoção de Eventos Esportivos e da Silva e Cassaro Corretora de Seguros, que também pertencem ao filho de Lula.
“É muito suspeito que uma empresa de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contatos com a administração pública (a Marcondes & Mautoni)”, afirmou o procurador.
Pelas investigações, a MMC (Mitsubishi Motors Company) e a Caoa pagaram à Marcondes & Mautoni R$ 16,8 milhões em troca de alterações na Medida Provisória 627, de 2013. Uma emenda aprovada no Congresso prorrogou benefícios fiscais para as montadoras. Em 2014, a Marcondes & Mautoni repassou R$ 1,5 milhão à LFT Marketing. Os sócios da empresa de lobby, Mauro Marcondes Machado e Cristina Mautoni, foram presos anteontem.
Em nota divulgada anteontem, o advogado de Luis Claudio, Cristiano Martins, afirmou que a LFT fez contrato de prestação de serviços com a Marcondes & Mautoni entre 2014 e 2015. O contrato resultou em quatro projetos e relatórios relacionados ao marketing esportivo. O advogado disse ainda que os valores foram devidamente declarados à Receita Federal. Ele não explicou, no entanto, o conteúdo dos projetos.
Os investigadores também vão apurar o envolvimento de políticos. E-mail enviado pelo ex-conselheiro do Carf José Ricardo dos Santos, em 29 de dezembro de 2009, a Eduardo Valadão, sócio de empresa de lobby envolvida no esquema, tem como título “Atenção parlamentares” e relata a necessidade de “acerto” de contas com políticos. O e-mail é encaminhado também ao lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS. José Ricardo ressalta que está partindo para uma viagem e não conseguiu falar com os parlamentares. Sugere que Valadão faça o contato, se achar preciso, para a prestação de contas.
José Ricardo prossegue pedindo que Valadão explique não ser conveniente fazer os repasses “de imediato” e que faça a conversa “de maneira tranquila” e “sem criar tensões nos sentimentos deles”. Afirma ainda que, para “segurança dos procedimentos”, era melhor deixar os pagamentos para 2010. No e-mail a APS, o ex-conselheiro afirma que “os nossos colaboradores estão com um conceito muito imediatista”, mas que “é só esclarecer bem a situação e tudo vai dar certo”.
A PF diz não ter identificado os políticos, mas vê no e-mail sinal de que havia “sanha de cobrança” dos parlamentares aos lobistas envolvidos.
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