• Condição da base social do PT é mudar politica econômica
- Valor Econômico
Pelo menos na largada, a vantagem é da presidente Dilma Rousseff. Grosso modo, algo como 30 a 25 contra o pedido de impeachment, sendo que dez deputados devem ficar no meio à espera de ver pra que lado sopra o vento e desembarcar ao lado do vencedor. Este é um quadro considerado mais que realista por quem trabalha contra o impeachment da presidente. Ou seja, Dilma estaria por dois a três votos de conseguir um parecer favorável, enquanto Michel Temer e seus aliados precisariam capturar oito votos. Os números com os quais trabalhava ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são ainda mais generosos: dois terços a um terço contra o impeachment. Isso, claro, mantida a configuração de ontem à tarde da comissão.
Esse é o quadro na entrada. Nada garante que será o mesmo da saída, ao fim dos trabalhos da comissão de 65 deputados. Os nomes do PMDB, o fiel da balança, foram escolhidos cirurgicamente no Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Maranhão dos Sarney para dar maioria a Dilma. No momento está 5 X 3 para a presidente da República. O PT fechou com a defesa do mandato de Dilma, todas as correntes, e suas escolhas para a comissão já refletem os dois cenários com os quais trabalha o partido para depois da decisão.
No cenário mais otimista, Dilma passa na comissão, no plenário da Câmara e fica no comando de um governo arrastado, com grandes dificuldades econômicas em 2016 e alguma melhoria entre 2017 e 2018. Este, deve-se dizer, não era propriamente o clima da reunião de Lula com os movimentos sociais. A condição para o apoio de centrais sindicais e outras organizações da base social do governo é a mudança da política econômica.
Os movimentos querem que Dilma execute a política econômica da campanha eleitoral e não a do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Essa é a fatura do apoio dos movimentos sociais a ser cobrada da presidente, na hipótese dela sobreviver. E já em 2016. Nada de esperar por melhores condições em 2017 e 2018. É o que ficou selado e carimbado no encontro. Outra coisa é o que Dilma terá condições de fazer depois.
Num caso ou no outro, o objetivo é o mesmo: preservar o patrimônio eleitoral que Lula e o PT têm no país ou tinham no período imediatamente pré-2002, algo em torno dos 30%. Atualmente o PT e Lula estão menores que isso. Na última pesquisa de intenção de votos para a Presidência da República, divulgada pelo Datafolha, Lula oscilou entre 25% e 22%, dependendo do cenário, mas sempre bem abaixo do senador Aécio Neves (35% no cenário principal), o mais provável candidato do PSDB em 2018.
Se chegar a 2018 com algo em torno dos 30%, o PT estaria vivo para disputar a eleição com chances reais. Talvez até sem Lula na cabeça de chapa. O ex-presidente começa a acusar o golpe das prisões, delações premiadas e - sobretudo - da Polícia Federal na cola de seus familiares. Está muito incomodado. E poderia fazer campanha tanto para Jaques Wagner, ministro da Casa Civil, como para Fernando Haddad, se ele for vitorioso na eleição municipal de 2016. Essas são as opções hoje do PT caso Dilma escape e preserve o máximo possível de patrimônio eleitoral.
O outro cenário é o do impeachment, que não seria de todo ruim para o PT. A suposição é que Michel Temer não terá condições de fazer um bom governo, tirar o país da crise e retomar o crescimento sofrendo a oposição do PT e de outros partidos da base aliada, assentada num discurso forte que juntaria o "golpe" com a crise econômica. Neste caso, Lula seria o candidato do PT a presidente em 2018.
Em conversas que teve depois de se encontrar com movimentos sociais, Lula comentou a declaração de Michel Temer de que Dilma nunca confiou nele. O ex-presidente disse não acreditar que o vice conspire contra a presidente. Seus interlocutores o advertiram que Michel já está com o bloco na rua. Certo é que alguns aliados da linha de frente de Temer mudaram o discurso e passaram a falar em "eles", quando se referem ao governo e à oposição. "Os dois lados querem manipular as regras", dizia um próximo de Temer sobre a discussão em torno da convocação extraordinária do Congresso.
Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, pediram uma trégua entre Dilma e os movimentos sociais, durante a tramitação do impeachment. Faz sentido. Uma análise da agenda oficial da presidente feito pela Macropolítica, uma empresa de consultoria de Brasília, mostra que Dilma privilegiou os encontros com os empresários aos movimentos sociais, no primeiro ano de seu segundo mandato (veja o gráfico acima).
O levantamento registrou 783 eventos na agenda de Dilma e detectou outros movimentos interessantes. Em média, Dilma teve mais encontros mensais com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, do que com Joaquim Levy, da Fazenda. O placar é de 3 X 1 para Barbosa. Em tempos de Lava-Jato, a agenda oficial da presidente não registra nenhum encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um dos ministros mais recebidos "fora de agenda".
Dilma larga em vantagem, mas sob pressão. Ela tem até amanhã para apresentar defesa na ação de impugnação da chapa que corre na Justiça Eleitoral. Temer constituiu um advogado próprio para atuar na ação, que deve ser julgada entre abril e maio de 2016.
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