O Globo
“Não é o momento de pensar no ‘meu’ interesse, nem no partidário, mas, sim, no do povo que está perdendo emprego e renda, e nos interesses do Brasil, que está perdendo lugar no mapa dos países com futuro promissor. O Brasil espera grandeza.” (Fernando Henrique Cardoso)
O Brasil enfrenta um dos momentos mais delicados de sua história. Nunca antes um projeto partidário de poder ameaçou tanto nossa democracia e nosso futuro. O que mais parece uma quadrilha disfarçada de partido — hoje está claro — tomou de assalto o Estado, aparelhou toda a máquina com seus comparsas, e destruiu os pilares de nossa jovem República, sem falar dos estragos incalculáveis na economia.
Quem tem menos de 30 anos não sabe o que foi a década de 1980, antes do Plano Real. O PT e Dilma têm se esforçado para nos levar de volta àquele caos, quando uma taxa de inflação elevada fazia evaporar o salário do trabalhador, o desemprego era um fantasma à espreita e a previsibilidade no futuro era nula. A “nova matriz macroeconômica” dos inflacionistas da Unicamp afundou a economia brasileira, como previsto pelos economistas liberais.
A questão ética é a pior de todas. Uma turma cínica, que monopolizava o discurso da ética, fez justamente o contrário quando chegou ao poder: aliou-se aos maiores bandidos da política nacional, desviou dezenas de bilhões de reais dos cofres públicos, e sugou recursos das estatais a ponto de levá-las quase à falência. O PT é como um parasita instalado em nosso organismo, que coloca em risco a nossa própria sobrevivência, pois está disposto a “fazer o diabo” para nunca mais perder suas fontes de pilhagem.
Mas, após tantas mentiras, tanto descaso, tantos escândalos e uma economia em frangalhos, o povo brasileiro finalmente acordou. Foi às ruas de forma espontânea, ao contrário do “exército vermelho” a soldo do governo. Gritou contra o cinismo, contra a corrupção. Está cansado dos desmandos de um partido autoritário, que se inspira na pior ditadura que o continente já teve, a cubana, viva até hoje graças, em boa parte, aos recursos que nosso governo lhe envia.
Diante disso tudo, o homem errado no lugar certo, agindo de forma certa pelos motivos errados, acatou um pedido de impeachment preparado por um fundador do próprio PT, desiludido com tanta traição. O PT, claro, tentou impor uma narrativa de que era o corrupto Cunha contra a imaculada presidente. Nada mais falso, como qualquer ser pensante pode perceber. O impeachment, além de instrumento legal e constitucional, é o desejo da maioria dos brasileiros.
Mas é um processo que depende da realidade política, acima de tudo. E à exceção dos românticos, ninguém é ingênuo a ponto de desprezar o funcionamento de nossa política, as forças ocultas que nela operam, o jogo sujo de interesses mesquinhos. Não é exatamente um local de santos e abnegados, o que deixa clara a necessidade de se reduzir ao máximo a esfera política em nossas vidas, inclusive.
Só que, em momentos de tantas incertezas e com tantos riscos em jogo, espera-se, sim, uma postura um pouco mais altruísta, em prol do país. São momentos que definem como seu nome será lembrado na História, se esteve do lado da Nação, ou do lado do pior governo de todos os tempos.
Se tal argumento não sensibilizar certas figuras, que o instinto de sobrevivência o faça: o PT vai afundar, como afundou a turma de Kirchner na Argentina. Os ratos costumam pular fora quando percebem que o barco vai a pique. Quem apostar na capacidade de sobrevida dos petistas perderá o bonde da História e irá naufragar junto, como num abraço dos afogados.
É nesse contexto que espanta a postura do PMDB carioca. Eduardo Paes, Pezão e a família Picciani viraram os pilares da defesa do indefensável no Rio. Os petistas demonizam Eduardo Cunha, mas consideram a família Picciani um exemplo de moralidade? Pode isso, Arnaldo? A incoerência salta aos olhos. E Paes, que tem sido um prefeito até razoável para os baixos padrões cariocas, coloca em risco toda a sua biografia com isso.
Será que vale se expor tanto para defender um governo moribundo, detestado pela imensa maioria? Os eleitores vão acabar punindo o partido nas urnas. E quando observamos as alternativas, temos calafrios. O PMDB carioca vai mesmo arriscar jogar o Estado nas mãos de um PSOL da vida para defender Dilma e o PT? Até o agressor da mulher foi defendido, mas parece que a ficha caiu agora. E quando ela vai cair para o suicídio político que é proteger o governo Dilma?
Acorda, Paes! Acorda, Pezão! Estão jogando contra o Brasil...
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Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
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