Enquanto o turbilhão político evolui, a economia gera fatos positivos que dão a esperança de que haja uma barreira para redução de danos
O cenário do desfecho da crise política em um prazo mais curto fica mais distante à medida que os fatos se sucedem. O presidente Michel Temer afastou a alternativa da renúncia, cavou trincheiras no Planalto e no Jaburu, reforçou a tropa de advogados e auxiliares, preparando-se para uma guerra de desgaste.
A perspectiva é de um período de escaramuças. Do julgamento no TSE, em curso, Temer pode sair fortalecido se a Corte absolvê-lo — resta saber como, diante da jurisprudência e das provas de irrigação de dinheiro ilegal da chapa que compôs com Dilma Rousseff. Mas, ainda assim, haverá a denúncia contra ele, por parte da ProcuradoriaGeral da República, a ser encaminhada ao Supremo e, por este, à Câmara, onde Temer necessitará de no mínimo 171 votos, para impedir a abertura de processo na Corte. Seriam tempos de desgastes e mais incertezas. E se o presidente for cassado pela Justiça Eleitoral, ele recorrerá ao Supremo, já avisou.
Ainda é cedo para interpretações mais seguras, porém mercados têm dado sinais positivos, independentemente do turbilhão político. Há estatísticas positivas geradas antes do agravamento da crise, que podem não se repetir, mas sem inverter o sinal para negativo.
Na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), composto pela diretoria do Banco Central, na semana passada, os juros básicos foram cortados em um ponto percentual, quando se esperava algo mais. Na ata da reunião, divulgada terça-feira, a cautela é justificada pelo “aumento da incerteza” sobre o andamento das reformas.
Mas não houve nenhuma alteração importante nas projeções para este ano. O Copom reduziu os juros de 11,25% para 10,25% — e não os 10% em que apostava —, mas as estimativas do mercado (relatório Focus) estão em 8,5%. Enquanto a inflação, também para este ano, segundo departamentos de análises de instituições financeiras, se mantém abaixo da meta de 4,5%.
A queda dos juros, mesmo de forma mais lenta, serve de alavanca para a indústria automobilística, já em fase de ascensão: em maio, a produção aumentou 33,6% em relação ao mesmo mês de 2016. No acumulado dos primeiros cinco meses de 2017, o crescimento chegou a 23,4%.
O setor externo da economia, o primeiro a se ajustar, tem recebido também a contribuição das vendas de veículos ao exterior. Ainda em maio, a balança comercial acumulou o mais elevado superávit da História, US$ 7,6 bilhões.
Os horizontes continuam turvos, mas a própria credibilidade da equipe econômica, que continuaria independentemente do futuro de Temer, serve para ancorar expectativas.
Reforça esta barreira para redução de danos a aprovação da reforma trabalhista pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, terça, antepenúltimo estágio antes da ida do projeto para o plenário do Senado, onde se espera seja aprovado definitivamente.
Parece haver chances de a economia dar alguma sustentação a que a crise tramite nas devidas instituições, Justiça e Legislativo, conforme o balizamento das leis e da Constituição, até um desfecho que limpe os horizontes para o país, sem maiores recuos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário