Por Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Dividido entre deixar ou ficar no governo, o PSDB deixou para segunda-feira a decisão que pretendia tomar hoje logo após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o pedido de impugnação da chapa Dilma-Temer. Os tucanos estão entre os que desejam entregar os cargos mas apoiar as reformas no Congresso, inclusive ajudando Michel Temer a manter o mandato, e os que acham que o partido não pode abandonar o presidente e comprometer em definitivo as reformas. "Perdido por um, perdido por mil", diz um líder.
Se a reunião ocorresse hoje, como estava programado e a decisão fosse pela entrega dos cargos, é certo que alguns ministros do PSDB permaneceriam em seus postos, situação que dificilmente deve mudar até segunda-feira. Temer vai precisar da bancada tucana na Câmara se o Supremo Tribunal Federal (STF) pedir autorização para processar o presidente. Mas com seu antigo comandante Aécio Neves (MG) também ferido de morte pela delação da JBS, o PSDB também precisará do apoio do PMDB em eventual processo no Conselho de Ética do Senado.
A posição do PSDB foi bem resumida numa rápida entrevista ontem à tarde pelo novo presidente do partido, Tasso Jereissati. Segundo o senador cearense, o PSDB não precisa ocupar ministérios para continuar apoiando a agenda de reformas do presidente Michel Temer. Com a intensificação das pressões para a saída do PSDB do governo, Tasso afirmou que "segunda-feira é o limite" para que uma decisão seja tomada a esse respeito. "Não precisamos ter cargos ou ministérios para continuar a apoiar as reformas", disse.
Tasso foi questionado sobre a informação de que Temer utilizou um avião de Joesley Batista, dono da JBS, para viajar com a família de São Paulo a Comandatuba, na Bahia, em 2011. Anteontem, a assessoria do Palácio do Planalto havia informado que Temer havia usado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para fazer o trajeto. Hoje, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência retificou a informação, dizendo que Temer não pagou pelo serviço nem sabia a quem pertencia a aeronave.
Tasso prevê que "não vai parar de ter fato novo" - uma referência irônica que ele faz há várias semanas sobre as novidades em série produzidas pelo Ministério Público Federal, a Polícia Federal e as diversas operações em curso. Ele reconheceu que a cada fato novo envolvendo o presidente, aumenta o número de deputados e senadores do partido que defendem o desembarque.
Segundo apurou o Valor, o adiamento teve como objetivo evitar um "enfraquecimento do partido", o que seria inevitável se o PSDB voltasse a se reunir e concluísse o encontro sem nenhuma decisão final. "A tendência é que a reunião seria inconclusiva, pois aconteceria sem ter um desfecho do julgamento [do TSE]. Para evitar constrangimentos e desidratação da força do partido o caminho escolhido foi adiar a decisão", avaliou um senador. A saída da base também tiraria a legenda das discussões para a sucessão.
O racha mais evidente entre os tucanos é o que separa as bancadas da Câmara e do Senado. Enquanto a maioria dos parlamentares do PSDB da Câmara - chamados de cabeças pretas - apoia o desembarque imediato, a maior parte dos senadores, os chamados cabeças brancas, resiste à saída e aposta na absolvição de Temer pela Corte Eleitoral.
Ontem, após mais de três horas de reunião com a bancada da Câmara, o líder do PSDB na Casa, deputado Ricardo Tripoli (SP) sinalizou que está prevalecendo o sentimento de que não há mais clima para Temer permanecer à frente do Palácio do Planalto. Segundo Tripoli, as divergências dentro do partido giram em torno do melhor momento para a legenda sair da base governista. "Alguns parlamentares acham que o momento de sair não é agora, mas quase todos acham que Michel Temer não consegue terminar o governo."
"É preciso encontrar o timing perfeito para deixar a base, se é que isso vai acontecer em algum momento", avaliou um tucano. (Colaborou Raymundo Costa)
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