Temer exige compromisso eleitoral de novos ministros e procura nome da base para outubro
Paulo Celso Pereira | O Globo
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer deu início esta semana às negociações pela construção de uma candidatura presidencial da base aliada que defenda seu legado. Na segunda-feira, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, começou a chamar para conversas individuais os ministros que devem deixar a Esplanada com a intenção de se candidatar nas eleições de outubro. O conteúdo básico dos encontros, que devem se estender até o fim da próxima semana, é o mesmo: Padilha está informando aos demissionários que a pré-condição para os ministros e seus partidos indicarem sucessores é se comprometerem com a defesa do governo durante as eleições. E a ideia do Planalto é costurar com essas legendas uma grande aliança em torno de um só candidato presidencial, que venha da base aliada.
A decisão de Temer de colocar na disputa um nome para defender sua gestão veio de reiteradas conversas com o ex-presidente José Sarney, que disse se arrepender de não tê-lo feito em 1989. O ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, é didático sobre a estratégia:
— No regime presidencialista é a Presidência que organiza as forças políticas. O fato de o governo Sarney não ter tido candidato levou as forças de situação a se dividirem. O governo vai ter candidato. Vamos procurar dentre os candidatos da base quem tem melhores condições eleitorais, além de liderança pessoal e popular para unir os partidos. E esse candidato pode ser qualquer um. Pode ser o Rodrigo Maia, pode ser o Henrique Meirelles, pode até surgir outro candidato — pontua o ministro, um dos mais próximos interlocutores de Temer.
Indagado se o próprio presidente poderia ser o nome da base, o principal conselheiro político de Temer tergiversa:
— Não sei. Nem o governo, nem o presidente Temer vão trabalhar para que seja ele. O que vai pautar a ação política do governo não vai ser aquela obstinação em torno de uma única alternativa. O que importa é nós unirmos essa base, que precisa de um nome que tenha trânsito e viabilidade eleitoral. O governo não vai ter preferência, pode ser qualquer um.
OBJETIVO DE TER NOME EM JUNHO
O objetivo do Planalto é definir o candidato até o início de junho. Para justificar a impopularidade de Temer, o discurso que eleitoral já começa a ser desenhado: Temer teria tido a coragem de realizar reformas que precisavam ser feitas — como a trabalhista, a do ensino médio e a criação do limite dos gastos públicos —, evitando medidas populistas. Outro argumento eleitoral em defesa do eventual candidato único da base seria de que apenas esse nome teria condições de governar a partir de 2019 com uma maioria parlamentar clara.
O principal desafio para o projeto do governo, no entanto, é conseguir encontrar um nome com níveis mínimos de popularidade nas pesquisas de opinião pública. Até o momento, Meirelles, Maia e Temer não passam dos 3% nas sondagens.
— Vamos enfrentar um problema eleitoral: como o sistema partidário brasileiro é muito inconsistente, um bom candidato a presidente da República, com capacidade de aglutinar as forças partidárias, precisa ter viabilidade eleitoral. Porque, senão, todos serão cristianizados (abandonados). Essa aglutinação (da base) vai exigir um nome que transmita o élan e o vigor que gera a força eleitoral — admite Moreira.
Dentre os partidos que mantém ministros na Esplanada, o único que tem candidato figurando entre os cinco primeiros colocados nas pesquisas é o PSDB, com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, flutuando entre 6% e 11% das intenções de voto.
No entanto, o fato de o candidato tucano ter se recusado a defender Temer na votação das denúncias contra ele na Câmara — 11 dos 12 deputados de São Paulo votaram contra o presidente —, associado às reiteradas críticas de Alckmin ao governo levam o palácio a evitar uma aproximação. O tucano, por sua vez, também tem evitado qualquer gesto que possa contaminá-lo pela impopularidade presidencial. Neste cenário, o ministro da Secretaria-Geral diz que uma aliança da base em torno do tucano está descartada no momento.
— Pelo andar da carruagem, não acho que ele (Alckmin) seja a alternativa politicamente mais próxima desta base. Eu sinto no Congresso, sobretudo na Câmara, uma reação de muita desconfiança. Não há muita aderência, muita convivência solidária entre os outros partidos da base e o PSDB. Mas enfim, política você muda pela conversa, pelo diálogo. Hoje ele está muito distante da base.
RETALIAÇÃO A ALIADOS DE ALCKMIN
A irritação com Alckmin no Planalto é tal que, neste momento, a ideia é retaliar partidos que se associem ao tucano. O caso mais explícito é o do PSD, do ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia). Ambicionando ser vice de João Doria na disputa pelo governo paulista, o ministro já explicitou nas últimas semanas que seu partido deve apoiar Alckmin nacionalmente em outubro. De acordo com assessores de Temer, isso pode levar à saída do PSD da esplanada na reforma ministerial de abril.
— Se não tiver disposto a apoiar o candidato da base, que defenda o legado, não tem porque ficar com ministério — explica outro ministro.
Até semanas atrás, havia a expectativa de que cerca de 15 ministros deixassem seus postos na reforma. Nos últimos dias, no entanto, esse número caiu para cerca de 10. Alexandre Baldy (Cidades), Raul Jungmann (Segurança Pública) e Blairo Maggi (Agricultura) avisaram que não irão mais disputar cargos este ano — e Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) tem sinalizado a interlocutores que pode fazer o mesmo. Neste momento, a ideia do presidente Temer é realizar todas as mudanças a partir do dia 2 de abril, na última semana para desincompatibilização.
Temer, no entanto, quer evitar a repetição da tradicional troca de titulares por secretários-executivos ligados aos antigos ocupantes. O objetivo é evitar o clima de fim de governo. A avaliação do Planalto é que, como Temer assumiu há apenas 22 meses, os nove meses de trabalho que os novos ministros terão pela frente não podem ser tratados com pouca relevância, como ocorre com presidentes que ficam quatro anos no mandato. A pressão dos atuais ministros para manter seus subordinados à frente das pastas, no entanto, é grande.
— Estamos conversando e dizendo que, se for sair, vai se buscar um outro nome, que não será necessariamente indicado para a mesma pasta. O presidente fará uma avaliação — explica Moreira.
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