Ex-presidente critica grupo fisiológico de deputados que sustentava Eduardo Cunha
Dimitrius Dantas | O Globo
SÃO PAULO - No mesmo dia em que assinou um texto defendendo a união do que chama de centro democrático e progressista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez questão de diferenciar o grupo político que tenta formar do chamado Centrão, bloco parlamentar que une partidos que inicialmente deram sustentação ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso por corrupção.
— Não (podemos) confundir o centro com o Centrão. Isso não corresponde ao meu desejo, que é reforçar o pensamento democrático, prestar atenção às desigualdades, combate à corrupção e visão de futuro — disse FH.
Segundo ele, o Centrão é um grupo de políticos com interesses fisiológicos e uma possível aliança com esse grupo diminuiria a margem para a discussão com a população durante a campanha eleitoral.
No manifesto, publicado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmado pelo GLOBO, FH e outras lideranças defendem a união dos partidos do campo político que se autodenomina de centro (que não está nem à direita nem à esquerda). A proposta é criar uma iniciativa que alcance vários partidos, de liberais a sociais democratas e socialistas democráticos.
Embora o PMDB tenha assinado o manifesto, Fernando Henrique afirmou que é improvável que o partido apoie o candidato tucano para a Presidência da República, o ex-governador de São Pauo Geraldo Alckmin. Segundo ele, o partido do presidente Michel Temer tem um candidato próprio e, em alguns estados, PSDB e PMDB são adversários.
— Estou fora da coordenação de campanha. Digo o que eu penso, o que acho que tem que fazer. Quem vai decidir isso é o Alckmin. Mas o PMDB está se organizando para ter candidato. É difícil porque em muitos estados o PMDB e o PSDB estão em choque — disse.
Para os idealizadores do manifesto, o centro não faz referência ao sentido ideológico do termo, já que poderia unir a centro-direira e a centro-esquerda. O centro surgiria como metáfora para o objetivo de garantir um equilíbrio no sistema político em relação aos extremos radicais na esquerda e na direita.
O texto do manifesto, ainda não finalizado, foi lido e aprovado por FH e pelo chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Novas assinaturas devem ser tomadas até o lançamento do manifesto, no próximo dia 29.
O ex-presidente desconversou, contudo, quando questionado se o candidato do seu partido estaria confundindo o centro com o Centrão. No último dia 5, Alckmin visitou Ciro Nogueira, presidente do PP, no Piauí, mesmo dia em que telefonou para Michel Temer, atitude vista como um sinal de reaproximação entre ambos. Tanto Nogueira quanto Temer são denunciados da Operadora Lava Jato. Para FH, Alckmin vem agindo com prudência em relação a essas alianças.
Apesar da movimentação nos bastidores, o candidato do PSDB ainda não engrenou nas pesquisas de intenção de voto. Levantamento da MDA publicado pela Confederação Nacional de Transportes mostrou uma queda nas intenções de voto em Alckmin e aumento de sua rejeição. Fernando Henrique, no entanto, não se mostrou preocupado.
— Não, não, não, o Alckmin tem tido bastante prudência nessa matéria (alianças), não tem dado passos além da perna. Ele é um político experiente, sabe que tem que jogar pro longo prazo e tem um momento que é o atual, de ver com que aliança vai se propor, e depois o momento decisivo, que é o da campanha — disse.
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