Um ano depois da delação da JBS, Temer e outros envolvidos se mantêm à tona, mas não há vitoriosos
Passou-se um ano desde que, com o revelado na delação do empresário Joesley Batista, o presidente Michel Temer se viu em meio a uma crise capaz de encerrar precocemente o seu mandato.
O emedebista contornou o perigo a custo, mas de certa forma é como se não tivessem restado vitoriosos políticos depois de uma sequência de eventos tão escandalosa.
Gravado numa conversa fora de agenda, o presidente indicava ao dono da JBS o nome do então assessor Rodrigo Rocha Loures como interlocutor de confiança.
Seria a pessoa a substituir o ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) nesse papel, de atribuições ainda obscuras.
Sabe-se que Rocha Loures foi flagrado, dias depois, com uma mala contendo R$ 500 mil, a ele entregue por um representante da JBS.
Quanto a Geddel, descobriram-se em setembro suas impressões digitais num apartamento desocupado em Salvador, onde eram guardados R$ 51 milhões em espécie.
O ex-ministro se encontra em prisão preventiva. Com o recebimento unânime da denúncia do Ministério Público pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, tornou-se, na semana passada, réu em processo criminal.
Não foi esse, por enquanto, o destino de Rocha Loures —que se beneficiou, por tabela, das prerrogativas e do poder político de Michel Temer. O presidente conseguiu, com os acordos fisiológicos que conduz com maestria, apoio da maioria da Câmara dos Deputados para sustar um processo.
Apesar dos indícios suficientes para justificar seu afastamento, Temer se manteve, desmoralizado e impopular, no Palácio do Planalto.
Sua capacidade de aprovar as reformas polêmicas e necessárias na economia caiu drasticamente, sua credibilidade é mínima, investigações que o envolvem prosseguem por decisão do Supremo —mas o emedebista sobrevive.
Saiu também combalida do escândalo a imagem do Ministério Público. Logo se constatou que a delação da JBS foi obtida num acordo de generosidade inadmissível.
Também foi descoberto que o ex-procurador Marcello Miller passou à folha de pagamentos da empresa, sendo acusado de ter trabalhado a serviço dos criminosos confessos ainda quando pertencia à Procuradoria-Geral da República.
Fortaleceu-se a impressão de que o titular do cargo na época, RodrigoJanot, encarnava uma ânsia acusatória talvez presente em outras instâncias da instituição —e de que o recurso a delações premiadas, importante instrumento para auxiliar nas investigações, podia ser aplicado sem critérios ou de maneira abusiva.
Os fatos comprovados, como a mala de Rocha Loures e o alegado “empréstimo” concedido por Joesley Batista ao tucano Aécio Neves, permanecem, evidentemente, em toda sua carga comprometedora. Os suspeitos, entretanto, ainda se mantêm à tona —e no poder.
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