- Folha de S. Paulo
Adeptos do câmbio flutuante querem mais ação do BC; estudos divergem sobre causa da alta
O preço do dólar pode flutuar, desde que seja para o lado que interessa ao freguês. Parte da indústria e exportadores reclamam de dólar barato, cansou-se de saber. Parte da finança, em geral defensora de câmbio flutuante, está nervosa demais com a corrida do dólar para perto dos R$ 3,70.
É o que a gente pôde ver e ouvir nas últimas semanas de desvalorização do real, com gente meio desesperada por intervenções mais firmes do Banco Central.
Há, claro, o temor sensato de que disparadas do dólar causem acidentes financeiros. Há, porém, também o desgosto de se ver mais pobre em termos de dinheiro que realmente interessa, dólar.
O que a gente ainda não consegue ver são explicações coincidentes sobre o motivo da disparada da moeda americana por aqui. Economistas razoáveis e reputados que lidam com a conjuntura dão explicações disparatadas sobre o que se passa e o que pode se passar até o fim do ano.
Certos estudos indicam que o dólar se mudou para andar mais alto, por um bom tempo, em particular porque a diferença entre taxas de juros americanas e brasileiras caiu (embora viesse caindo fazia tempo, uma "não linearidade" que não parece fácil de explicar).
Outros modelos acabam por soltar números que dão mais peso a variações transitórias na percepção de risco de manter dinheiro no Brasil, em reais. A depender do resultado da eleição, a taxa de câmbio voltaria a um patamar mais comportado já no fim do ano. Nessa linha, estaria havendo um exagero de desvalorização ("overshooting").
A mediana das estimativas do mercado ainda chuta dólar a R$ 3,40 no fim do ano, quase nada de desvalorização real em relação a 2017. Tem ainda bancão acreditando em R$ 3,30.
Todo o mundo concorda com a constatação óbvia de que o Brasil não vive crise externa (dificuldade de financiar gastos e dívidas). Além do mais, é óbvio ainda que há uma valorização mundial do dólar, embora certas moedas apanhem mais, outras menos, devido a fatores nacionais idiossincráticos.
Há fatos um tanto curiosos neste tumulto. Até agora, pelos dados conhecidos e conhecíveis, não há fuga do Brasil nem movimentos nervosos além da conta nas taxas de juros. A Bolsa se segura nos 84 mil pontos, por aí, embora vitaminada pelo preço do petróleo e animações outras com a Petrobras.
Por meios diversos, procura-se mais dólar com o objetivo de proteger aplicações em real (Bolsa, juros), a compensação de perdas ali com ganhos aqui, o que grosso modo se chama "hedge". Esse seria um fator da alta do dólar (ou que realimenta temporariamente, ao menos, a alta do dólar).
De interessante também, nesta onda de desvalorização geral nos emergentes, os preços de commodities que esses países exportam estão em alta ou em bom nível. Também não há muito país com problema ruim em contas externas, como Argentina e Turquia.
Quanto à questão de fundo, não haveria muito o que fazer a não ser suavizar a desvalorização, evitar acidentes em empresas e reparar algum entupimento ou disfunção (ahá!) do mercado.
Caso as taxas de juros americanas continuem subindo, chegando a 3,5% ao ano (para o título de dez anos, ora em 3,1%), o remelexo seria quase universal, se diz, com o dólar aqui passando pelo menos uma temporada no inferninho de R$ 4,00.
Caso, ainda por cima, persista a impressão de que pode ser eleito um programa de governo demente para 2019, melhor esquecer prognósticos razoáveis.
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