Temer pode ostentar o êxito que foi a montagem da equipe econômica, mas isso não esconde o erro ao não renunciar na descoberta dos contatos espúrios com Joesley
Ao assumir de vez a Presidência da República em 31 de agosto de 2016, no impedimento de Dilma Rousseff, o vice Michel Temer tinha campo aberto à frente. Afinal, os compromissos com o PT da presidente se referiam apenas à governabilidade, sem qualquer vinculação ideológica, programática.
No período de interinidade, iniciado em 12 de maio, isso ficara claro, na própria escolha da equipe econômica, de pensamento diametralmente oposto à visão “desenvolvimentista” de Dilma e grupo, responsáveis pela grave recessão de 2015/ 16 e o consequente desemprego de 14 milhões de pessoas, além da volta da inflação aos dois dígitos.
A escolha de Temer, entre outros, de Henrique Meirelles para a Fazenda e Ilan Goldfajn para o Banco Central, foi decisiva para a grande vitória de seu governo, que tem sido a estabilização da economia, com retomada de crescimento, embora ainda lento, dada a grande dimensão do desemprego. A agenda estava correta.
No balanço dos dois anos de gestão, os destaques são uma inflação muito baixa, aquém de 3%, quando a meta anual é de 4,5%; e, embora ainda titubeante, um crescimento na faixa dos 2%. Diante do encolhimento do PIB de quase 8%, em 2015/16, é bom resultado.
Político experiente, três vezes presidente da Câmara, Temer correspondeu às expectativas, com sua equipe, ao conseguir que o Congresso aprovasse emenda constitucional para limitar o crescimento dos gastos públicos correntes à inflação do ano anterior, e, em seguida, viabilizar a reforma trabalhista.
Mas o fracasso final de Temer, simbolizado pela virtual paralisia do governo há um ano, cenário que deve persistir até acabar o mandato, em dezembro, é decorrente das práticas da velha política do PMDB do presidente.
Uma consulta ao número de inquéritos e processos de corrupção que abrangem políticos do partido, alguns próximos a Temer, é esclarecedora. A própria situação penal do presidente diz tudo. Na Câmara, estão sustadas duas denúncias contra ele por corrupção, de forma genérica, a serem reativadas quando o presidente sair da proteção do foro privilegiado.
O presidente tem méritos na escolha da equipe econômica, mas errou ao não renunciar quando ficou comprovado o relacionamento indevido com o empresário Joesley Batista, da JBS, ao mesmo tempo em que surgiam sinais de corrupção no tal decreto do Porto, em fase de investigação. Uma conversa entre Temer e Joesley, gravada pelo empresário, divulgada pelo GLOBO, é definitiva.
Um presidente eleito de forma indireta, como estabelece a Constituição, teria mais chances de aprovar a minirreforma da Previdência, dando um alento ao próximo governo, e acelerando a recuperação da economia. O país passou a patinar, quando poderia ter avançado. Temer gastou seu capital político barganhando na Câmara o congelamento de duas denúncias, e assim vai se arrastando até concluir o mandato.
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