Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Sem agenda pública desde sábado, o ex-governador e presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, recolheu-se nos últimos três dias em reuniões fechadas com colaboradores e dirigentes partidárias em uma tentativa de conter um princípio de crise em sua pré-campanha. A cinco meses da eleição, aliados lhe cobram planejamento e apontam erros de estratégia em meio a perplexidade geral com os resultados pífios do tucano até o momento nas pesquisas de intenção de voto.
Interlocutores de Alckmin reconhecem que o ex-governador enfrenta uma "maré ruim" com os dados das recentes pesquisas que atestam sua dificuldade em crescer na preferência do eleitorado e o avanço de investigações contra o tucano no Ministério Público. O cenário "preocupante", como definiu um colaborador, norteou boa parte de um encontro entre o presidenciável do PSDB e dirigentes do partido na segunda-feira para debater a conjuntura eleitoral.
"Geraldo não está entendendo porque isso está acontecendo. O povo está sendo duro. Ele fez uma boa gestão em São Paulo e não atrasou salários", afirma o presidente do PSDB paulista, deputado estadual Pedro Tobias, ao comentar um levantamento do Ibope no Estado, realizado em abril, que coloca o presidenciável tucano atrás numericamente, mas em situação de empate técnico com o deputado Jair Bolsonaro (PSL) no cenário sem o ex-presidente Lula na disputa.
A sondagem da CNT/ MDA, divulgada na segunda-feira, foi ainda pior para Alckmin ao mostrar que a intenção de voto no tucano variou de 8,6% para 5,3% ao mesmo tempo que sua rejeição cresceu cinco pontos percentuais (55,9%). O ex-governador também perde nas simulações de segundo turno para Bolsonaro, a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-deputado Ciro Gomes (PDT). Segundo Tobias, técnicos serão contratados para "entender" os números da pesquisa.
Na reunião com os correligionários, Alckmin procurou demonstrar tranquilidade, conforme o relato de dirigentes que participaram do encontro. Na ocasião, repetiu o discurso de que há uma ansiedade da imprensa e que eleitor ainda não parou para pensar na eleição presidencial. O quadro, afirmou o tucano aos aliados, ficará definido após as convenções partidárias. O ex-governador, no entanto, reagiu às críticas e observações com certa irritação.
Nesse contexto, desdenhou o pedido para que dedicasse mais tempo de sua pré-campanha no Estado de São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Nos últimos meses, o presidenciável do PSDB tem investido em viagens para Brasília, em encontros internos de articulação política, e para outras regiões do país, como o Norte e o Nordeste, onde seu nome é menos conhecido e enfrenta maior resistência.
Alckmin mandou desmarcar um roteiro de viagens por São Paulo, elaborado por Luiz Felipe D'Ávila, um dos coordenadores do programa de governo tucano. Como justificativa, o tucano alegou que passou pelas 645 cidades paulistas durante sua gestão. A decisão frustrou os dirigentes estaduais.
Para lideranças da sigla, o pré-candidato deveria concentrar esforços no primeiro turno em Estados que tradicionalmente votam no partido, sobretudo no Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Para corroborar esse raciocínio, lembram que palanques fortes no Norte e Nordeste não foram o bastante para garantir uma boa votação aos candidatos do PSDB em eleições presidenciais passadas.
Com o objetivo de criar uma agenda positiva, Alckmin deve anunciar mais quatro novos colaboradores até fim desta semana. A eles caberá a tarefa de ampliar o time de porta-vozes da pré-campanha, que já conta com Persio Arida (política econômica) Rubens Barbosa (política externa) e Leandro Piquet Carneiro (segurança pública).
Em outra frente, o presidenciável tucano promete retomar os esforços e as conversas com potenciais concorrentes para unificar o centro em torno de uma candidatura única ao Palácio do Planalto.
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