- Folha de S. Paulo
Estagnação de 40 anos está baseada em instrução de menos e privilégios de mais
Real desvalorizado, juro perto de zero e reservas cambiais sobrantes. Está implantada a fórmula mágica que, segundo uma escola de economistas, faria a produção nacional deslanchar.
Só que não. A indústria recuou em 2019. As exportações, que deveriam reagir ao estímulo cambial, levaram um tombo de 20% em janeiro, e a trombada foi maior na manufatura.
A turma do outro lado, a do ajuste fiscal, também não está com essa bola toda. Após o teto da despesa pública e a poda na Previdência, o espetáculo do crescimento segue adiado.
Mal começou o veranico do otimismo, terceira temporada da série "Agora Vai!", e ele já abana a mãozinha para nós. Os palpites dos profissionais, que rumavam para uma alta de 2,5% do PIB em 2020, há alguns dias voltaram a recuar.
Isso daí, em fraseado presidencial, deu uma fraquejada.
O emprego avança mais devagar que o ataque da seleção de Lazaroni. Exércitos de brasileiros mal qualificados entregam coisas e transportam pessoas nas cidades e impulsionam a informalidade.
Temos sido improdutivos. Há 40 anos a massa empregada produz praticamente a mesma quantidade de bens e serviços. Uma nação de 210 milhões de habitantes pouco instruídos, isolados da dinâmica global das transações e das ideias.
Aqui se permite que os gestores do ensino público, da ciência e da inovação sejam néscios e incompetentes. Tiranossauros da destruição ambiental ainda caminham sobre a terra brasileira.
Estruturas ancestrais de privilégios e proteções estatais mantêm-se intactas. Noventa anos depois da ascensão de Vargas, ainda gastamos uma montanha de recursos para defender a indústria, enquanto o mundo revoluciona e demanda serviços.
No século 21, metade dos brasileiros não acessa rede de esgoto, tecnologia barata e velha. Milhões limpam casas, dão troco nos ônibus e enchem o tanque nos postos. A maioria dos "millenials" não desfruta das maravilhas do terceiro milênio.
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