- Folha de S. Paulo
Trump, Bolsonaro e Putin expõem tríade sombria e aparecem em público quase sempre sem máscara
A palavra “personalidade” vem do termo latino “persona”, que significa originalmente “máscara” e, depois, “personagem”, “papel”. O vocabulário do teatro não é gratuito. Atores gregos, e também romanos, usavam máscaras que retratavam o estado de espírito de seus personagens —dessa tradição, sobreviveram as hoje ubíquas máscaras da comédia e da tragédia, que simbolizam o próprio teatro.
Daí ao sentido moderno de personalidade como o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade de alguém, é só um pulinho.
Tudo isso é bem conhecido. A pandemia de Covid-19, porém, revela um novo e inesperado vínculo entre máscaras e personalidade.
Apesar das crescentes evidências em favor do uso da máscara como medida eficaz de prevenção, algumas pessoas se recusam a vesti-la. Quem são esses indivíduos? Há alguma característica que os une? O psicólogo Pavel S. Blagov se propôs a investigar isso e submeteu 502 americanos adultos recrutados no site Mechanical Turk, da Amazon, a uma bateria de perguntas. Parte delas inquiria sobre o uso da máscara e outras medidas de prevenção, parte acessava traços de personalidade.
O estudo, que foi aceito para publicação no “Social Psychology and Personality Science”, encontrou associações entre uso de máscara e vários traços de personalidade. Uma das que mais chamou a atenção do pesquisador é que pessoas com pontuação alta em narcisismo, psicopatia e maquiavelismo estão entre aquelas com menor propensão a seguir as recomendações sanitárias.
Não por acaso, essas três características são conhecidas na literatura psicológica como a tríade sombria. Não por acaso, líderes políticos autoritários como Trump, Bolsonaro e Putin fazem questão de aparecer em público quase sempre sem máscara.
Deuses são irônicos e Dioniso, o deus do teatro, é provavelmente o mais irônico deles.
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