A alternativa de ampliar o fluxo do comércio externo esbarra na criação de conflitos com parceiros
O governo precisa se organizar melhor na atração de investimentos externos para alavancar a recuperação da economia.
O Brasil deve perder ao menos US$ 16,6 bilhões em investimentos estrangeiros diretos este ano, prevê a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O fluxo de capital, nessa hipótese otimista, tende a cair do patamar de US$ 72 bilhões, no ano passado, para US$ 55,4 bilhões.
Merece atenção redobrada porque, antes da pandemia, a saída de capitais já era fomentada pela falta de vigor da economia e pela multiplicação das dúvidas fiscais — estas, atenuadas pela reforma da Previdência levada pelo Congresso, apesar das vacilações do Executivo.
A surpresa da pandemia, com efeitos catastróficos, levou o país a novo ponto de partida. O diferencial está na corrosão da confiança dos investidores, porque Jair Bolsonaro transformou a Presidência no principal vetor de instabilidades na República, depois do novo coronavírus.
Sua política de confronto permanente com o Legislativo e o Judiciário fomenta desconfiança a respeito de fatores-chave na decisão sobre investimento numa economia em que o Estado possui papel predominante.
Alternativa possível, temporária, para atenuar o corte nos investimentos seria um esforço extra no comércio exterior. Ocorre que aí, também, o governo cultiva um amplo contencioso, pelo sectarismo obscurantista na política externa.
Mostra-se hostil à China, como ficou demonstrado na reunião ministerial de abril, embora os chineses sejam os principais compradores para mais da metade dos estados brasileiros e figurem como segundo maior importador do restante.
O governo passou os últimos 17 meses ancorado na expectativa de um acordo comercial com os Estados Unidos. Descobriu, na última quarta-feira, que Washington “não tem planos para um acordo de livre comércio com o Brasil” — nas palavras de Robert Lighthizer, chefe da agência de comércio externo americana.
Ele fez esse anúncio no comitê de tributação da Câmara, onde a maioria (24) do Partido Democrata já havia vetado negociações com o Brasil, por ver em Bolsonaro “um líder que desconsidera o estado de direito e tem desmantelado o árduo progresso nos direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas.”
Restariam as opções de aumentar o comércio com o Mercosul e com a União Europeia. No Mercosul, o governo da Argentina tem sido hostilizado por Bolsonaro. Mês passado o Brasil perdeu a posição de principal parceiro. Foi substituído pela China.
Com a União Europeia criou-se um impasse, devido à política ambiental, agravado pela estridência nas críticas a líderes como Angela Merkel, da Alemanha, e Emmanuel Macron, da França.
É autoasfixia política, com efeitos danosos para uma economia à beira de recessão sem precedentes.
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