- O Globo
Ao comentar a prisão de Queiroz, Bolsonaro mentiu três vezes em apenas 75 segundos. O capitão já disse que o amigo ‘fazia rolo’, mas agora é ele que está enrolado.
Desde que Fabrício Queiroz foi em cana, Jair Bolsonaro suspendeu as paradas no curralzinho do Alvorada. O presidente fugiu dos microfones e se mostrou abatido em dois vídeos divulgados nas redes. Na única menção ao caso, tentou se descolar da prisão do escudeiro. Em 75 segundos, contou três mentiras e confundiu desejo com realidade.
Bolsonaro disse que o amigo estava entocado em Atibaia para ficar “perto do hospital”. Conversa fiada. A chácara onde Queiroz se escondeu fica a 96 quilômetros do Albert Einstein, onde ele pagou uma cirurgia de R$ 133 mil em dinheiro vivo. Chegaria mais rápido se continuasse no Rio e pegasse um voo da ponte aérea.
O capitão afirmou que o ex-PM não precisava ser capturado porque estava à disposição do Ministério Público. Outra cascata. No pedido de prisão, os promotores lembram que Queiroz não compareceu “a diversos depoimentos marcados e remarcados” desde 2018. Ele ainda prestou informação falsa ao fornecer o endereço de um hotel em que nunca se hospedou. Sua mulher, que chegou a articular um plano de fuga com milicianos, está foragida da polícia.
O presidente também torturou os fatos ao dizer que “não está envolvido” nas traficâncias do faz-tudo. Além de pagar a escola de suas netas, Queiroz depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O ex-PM é homem de confiança do patriarca do clã. Estava pendurado no gabinete de Flávio, mas seu verdadeiro chefe era Jair.
O fantasma de uma delação de Queiroz começou a assombrar a família presidencial antes da posse. No terceiro dia de mandato, Bolsonaro declarou que o ex-PM “sempre gozou de toda a sua confiança”. O capitão disse que o amigo “fazia rolo”, mas agora é ele quem está enrolado com um preso que sabe demais.
Na live de quinta, o presidente deixou de citar detalhes importantes. Esqueceu que o ex-PM estava escondido num imóvel do seu advogado e ignorou o rótulo de chefe de organização criminosa que o Ministério Público colou na testa do primeiro-filho. Bolsonaro encerrou o monólogo com nove palavras de autoengano: “Da minha parte, tá encerrado aí o caso Queiroz”. Na verdade, está só começando.
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