Relatório
final será arquivado pelo Procurador-Geral da República e não servirá para a
abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro
O
presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas acertam ao dizer que a CPI da
Covid-19 no Senado não os derrubará de onde estão antes da eleição do ano que
vem. Mas erram quando dizem que ela simplesmente “vai dar em nada”.
Se
não vai dar em nada, por que tudo fizeram, embora mal feito, para impedir sua
criação, depois sua instalação e tentaram indicar uma maioria de senadores que
lhes fosse favorável? Conversa para boi dormir, ou para enganar os
bolsonaristas de raiz.
O
relatório final da CPI vai apontar todos os pecados mortais e veniais cometidos
por Bolsonaro na luta que ele não lutou contra a pandemia. Deliberadamente,
deixou-a correr solta e concedeu passe livre para que o vírus matasse.
A
construção da narrativa para sustentar a acusação de que houve um genocídio
será uma poderosa arma de campanha para dificultar a reeleição de Bolsonaro. Só
isso bastaria para justificar a existência da CPI – e o presidente está cansado
de saber.
Mas para além disso, o relatório não servirá. Manda a lei que ele seja enviado à Procuradoria-Geral da República que o arquivará ou oferecerá denúncia contra os acusados. Será arquivado porque Augusto Aras, o procurador, é amigão de Bolsonaro.
É
mais do que amigão: Aras deve o cargo a Bolsonaro e espera que ele retribua
seus favores nomeando-o para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal a
ser aberta com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello. Melhor que
espere deitado.
O
relatório poderia servir para a abertura de mais um processo de impeachment
contra Bolsonaro, mas nesse caso, os interessados deverão esperar dormindo.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, jamais fará uma coisa dessas.
De
resto, nem a oposição quer que ele faça. A ordem é deixar Bolsonaro sangrando
até 2022. Corre o risco de Bolsonaro receber uma transfusão de apoio popular e
se reeleger.
Aspirantes
a candidato à vaga de Bolsonaro batem em retirada
Tudo
pode acontecer na eleição do ano que vem, inclusive o que se desenha hoje –
Bolsonaro x Lula
O ex-juiz
Sergio Moro saltou fora. Ou melhor: foi desclassificado da corrida
preliminar para a vaga de presidente da República no ano que vem. Primeiro, foi
empurrado para fora do páreo por Jair
Bolsonaro, e teve que se demitir do Ministério da Justiça.
A
decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) de considerá-lo suspeito no caso da Lava Jato e de anular as condenações de Lula acabou por selar o
destino de Moro – atuar em um grande escritório de advocacia nos Estados
Unidos, onde é sempre bem-acolhido.
Luciano
Huck está mais para suceder Faustão nas tardes de domingo da Rede Globo do que
para enfrentar a aventura de perder dinheiro e sair da campanha com sua fama de
bom moço seriamente chamuscada.
Eleição
é parada dura, e só os cascudos escapam de morrer, mesmo assim com graves
escoriações. Huck voltou recentemente a repetir para um amigo: só seria
candidato se Bolsonaro chegasse ao final deste ano com a língua de fora. Não
será, portanto.
O
ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ainda sonha em ser o candidato
dessa indefinida entidade chamada de centro (não confundir com o Centrão, de
identidade mais do que conhecida). Mas, por via das dúvidas, admite disputar o
governo ou o Senado.
Seu
domicílio eleitoral é em Mato Grosso do Sul, onde se elegeu deputado federal
duas vezes. Planeja transferi-lo para o Rio de Janeiro, de olho no governo ou
em uma vaga no Senado. Para isso conta com o apoio do seu partido, o combalido
DEM.
E
assim vai se desidratando o contingente de nomes que ambicionavam concorrer à
eleição presidencial de 2022. As prévias do PSDB deverão ser ganhas por João
Doria, governador de São Paulo, que se apresenta como o pai da vacina
anti-Covid.
Doria
tem apetite, dinheiro e uma poderosa máquina governamental em suas mãos. Até
lá, ou Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, ou Tasso Jereissati,
senador pelo Ceará, desiste de disputar as prévias, ou Doria os esmagará.
Candidatos
a presidente irremovíveis e com chances de ir para o segundo turno restarão
Doria, Ciro Gomes (PDT), Lula (PT) e Bolsonaro, por enquanto sem partido. Os
demais serão figurantes. Aqui, de todo modo, cabe uma ressalva.
O Brasil é a pátria do aleatório. O acaso costuma surpreender contrariando o previsível. Lula, por exemplo, foi o presidente mais popular da história. Acabou preso e Bolsonaro, eleito. Agora, recuperou seus direitos políticos e poderá se eleger. Quem diria?
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