O Globo
O bolsonarismo queria usar a CPI da Covid
para investigar governadores e prefeitos de oposição. Agora o presidente ganhou
um escândalo bilionário para chamar de seu.
O rolo da Covaxin já exibia potencial para
comprometer o Ministério da Saúde. Sob gestão militar, a pasta contratou a
vacina indiana em tempo recorde. Aceitou pagar R$ 80 por dose, valor mais alto
entre todos os imunizantes comprados pelo país.
A negociação ainda envolveu um atravessador sob suspeita, a Precisa Medicamentos. Em 2018, sócios da empresa aplicaram um calote no ministério. Venderam por R$ 20 milhões remédios que nunca foram entregues.
Na época do trambique, a pasta era chefiada
por Ricardo Barros, atual líder do governo na Câmara. Numa curiosa
coincidência, o deputado apresentou a emenda que permitiu a importação da
Covaxin e ameaçou “enquadrar” a Anvisa para acelerar a liberação da vacina.
Até quarta-feira, o caso era tratado como
um incômodo para o governo. Com a aparição do deputado Luis Miranda, tornou-se
um problema sério para Jair Bolsonaro.
O dublê de parlamentar e youtuber diz ter
avisado o presidente de irregularidades no negócio de R$ 1,6 bilhão. Ele é
irmão de um servidor de carreira que relatou “pressões atípicas” para agilizar
o repasse à Precisa.
Segundo o deputado, Bolsonaro prometeu
acionar a Polícia Federal, mas “não fez nada”. Na hipótese mais suave, isso
pode levar o presidente a responder por prevaricação.
Miranda é do ramo: já foi acusado de
estelionato e crime eleitoral. Mas seu histórico nunca pareceu problema para o
presidente. Ele era convidado para passeios de moto e frequentava o Alvorada
nos fins de semana.
O destempero do governo mostra a
preocupação com o caso. O ministro Marcelo Queiroga abandonou uma entrevista ao
ser questionado sobre a Covaxin. O ministro Onyx Lorenzoni fez ameaças
explícitas ao denunciante, ao melhor estilo miliciano.
Bolsonaro está tentando de tudo para abafar
o assunto. Na quarta, surpreendeu ao demitir o antiministro Ricardo Salles.
Ontem provocou outra aglomeração e arrancou a máscara de uma criança de colo. A
ver o que ele aprontará hoje, quando os irmãos Miranda prometem abrir o bico na
CPI.
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