O Estado de S. Paulo
Mesmo sem chances de sucesso, populistas precisam confrontar as instituições democráticas
Populistas só deveriam atentar contra as
instituições democráticas de um determinado país se elas fossem frágeis e não
tivessem condições de conter suas ações potencialmente iliberais.
Por outro lado, se as instituições
democráticas forem robustas, se a sociedade for ativa e a mídia, vigilante,
deve-se esperar que populistas tenham muito mais parcimônia na sua estratégia
de confronto iliberal com as instituições.
Isso porque ações iliberais não são destituídas de custos políticos nem judiciais. Em outras palavras, se o populista é racional, só vai tentar fragilizar as instituições se a probabilidade de as enfraquecer for positiva.
Mas não é isso que tem sido observado em
várias democracias ao redor do mundo. Populistas, uma vez democraticamente
eleitos e no exercício do poder, tentam quase que invariavelmente concentrar
ainda mais poder e enfraquecer as instituições de controle, mesmo diante de
riscos de que tais iniciativas iliberais não sejam bem-sucedidas. Ou seja,
mesmo quando os custos políticos são muito altos e os resultados, bastante
incertos, populistas não abrem mão de uma estratégia confrontacional com as
instituições democráticas.
O que pode explicar esse comportamento
aparentemente irracional?
Uma explicação possível seria que
populistas são míopes e/ou incompetentes e, portanto, teriam dificuldades de
enxergar os custos das restrições do ambiente institucional em que estão
inseridos. Embora essa seja uma explicação tentadora, ouso oferecer uma
interpretação alternativa.
Todo populista faz das ameaças às
instituições seu modus operandi, independentemente das condições institucionais
e dos contextos políticos. Isso porque, por sobrevivência, precisam sempre
andar no “fio da navalha”.
Por um lado, não conseguem prescindir de
uma narrativa belicosa e adversarial com as outras instituições. Dariam a
entender, especialmente para o núcleo duro de seus eleitores, que se renderam
totalmente às regras do jogo da política tradicional.
Por outro lado, não podem “cruzar o sinal”
dos limites institucionais sob risco de perder viabilidade eleitoral, colocar
em ameaça a continuidade de seu mandato, ou mesmo enfrentar penalidades
judiciais.
Jogar o jogo puramente democrático, cedo ou
tarde, tira a competitividade política e eleitoral de populistas. Para
continuar sobrevivendo politicamente, necessitam ir até bem próximo do limite
institucional para que tenham condições de construir, pelo menos, uma
“alternativa de saída” que os mantenha minimamente competitivos para os novos
episódios eleitorais no futuro próximo.
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