sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Bruno Boghossian - Congresso usa emendas para amarrar mãos de Lula em 2025

Folha de S. Paulo

Verba deve reduzir ainda mais a influência do governo em eleições para presidências da Câmara e do Senado

Sem olhar para trás, Câmara e Senado atropelaram o governo para turbinar as emendas parlamentares do ano que vem. Não haverá deputado ou senador, governista ou de oposição, sem dinheiro grosso para abastecer suas bases eleitorais em 2024. Para um punhado de cardeais, no entanto, esse jogo já está em 2025.

O aumento da verba dá um nó precoce nas mãos do governo para a disputa pela sucessão de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. O reajuste das emendas fortalece a lógica sindical que rege a Câmara e o Senado, ao mesmo tempo em que diminui ainda mais a influência do Palácio do Planalto sobre os plenários.

O dinheiro é um fundão eleitoral a serviço dos grupos que mandam no Congresso. A turma usa o aumento das emendas impositivas para reforçar o slogan da independência do Legislativo e, com a faca no pescoço do governo, distribui a verba discricionária para complementar a fidelidade das bancadas.

O inchaço das emendas ajuda a manter a coesão de uma base de deputados e senadores que depende cada vez mais dos arranjos internos do Congresso e cada vez menos da boa vontade do Planalto. Arthur Lira usará essa bandeira para eleger um sucessor na Câmara, e Davi Alcolumbre fará o mesmo para voltar ao comando do Senado.

Em minoria no Congresso, o governo jamais teve a ilusão de que teria força para lançar candidatos próprios para presidir as duas Casas. Poderia ter peso na escolha dos nomes e da agenda defendida por eles, mas o apetite do centrão praticamente obriga o Planalto a embarcar numa aliança resignada com o grupo.

A última vez em que um governo tentou usar o peso de sua caneta para enfrentar o centrão numa dessas disputas foi em 2015, quando o petista Arlindo Chinaglia (candidato de Dilma Rousseff) foi derrotado por Eduardo Cunha. A farra das emendas impositivas começava naquela época. Eram distribuídos cerca de R$ 16 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. No ano que vem, serão R$ 36 bilhões.